São Paulo, quarta-feira, 01 de abril de 2009

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Cinemateca apresenta "ensaios audiovisuais" de Carlos Nader

Cineasta participa de debates com Antonio Cicero e Caetano Veloso, entre outros

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A mostra "Carlos Nader: Ensaios Audiovisuais", que a Cinemateca Brasileira e a Associação Cultural Babushka realizam de hoje até 12 de abril, propõe um diálogo entre obras autorais e outras 20 feitas por encomenda a Nader, 45. Para incrementar o diálogo, o artista participa de dois debates, que acontecem hoje e amanhã.
"A seleção demonstra ao mesmo tempo que Nader é uma antena do seu tempo e que é possível existir vida inteligente e sensível na produção comercial", afirma o cineasta Carlos Adriano, que mediará os debates. "Apesar de todos os limites da informação clara, exigida pela produção por encomenda, é possível reconhecer o exercício e a postura de Nader."

Autoralidade
Nader conta que, de início, teve medo de "confundir o espectador" com as "posturas diferentes" dos trabalhos. "No mínimo, a autoralidade fica diluída com a encomenda", diz Nader. "Fiquei surpreso, mas também contente, porque é meu ganha-pão. Em vez de dar aulas, por exemplo, faço esses trabalhos mais artesanais, geralmente para museus."
O debate de hoje terá a presença de Antonio Cicero, colunista da Folha, e Caetano Veloso. A conversa terá como ponto de partida os filmes "Carlos Nader" (1998), "Concepção" (2001) e "Cross" (2003). Nader quer incluir nessa seleção o filme "Beijoqueiro: Portrait of a Serial Kisser" (1992), encomenda de uma emissora de TV francesa, mas que ele acabou concluindo por conta própria.
"Juntos, os quatro trabalhos mostram como fui gradativamente me descolando da narrativa tradicional do documentário, partindo para a mistura de ficção e realidade, com cenas claramente armadas", diz Nader, que, em seguida, reforça o caráter de "ensaísta" que a curadoria confere a ele:
"O Beijoqueiro encarnava o Brasil maníaco-depressivo, que se vangloriava de coisas incríveis como o futebol, mas depois entrava numa depressão autodepreciativa. O vídeo mostra bem isso, porque o personagem é carregado de sentimentos opostos. Foi preso tantas vezes, por causa de beijos".
Na semana que vem, a mostra exibirá "Pan-Cinema Permanente", eleito melhor documentário no festival É Tudo Verdade 2008. E, segundo o próprio Nader, um filme barroco como seu retratado, o poeta Waly Salomão (1943-2003): "Há três linhas narrativas: um documentário cronológico, um retrato mais associativo da minha história com ele e um ensaio sobre cinema", diz.


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