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Crítica/artes plásticas
Contexto atual faz crescer obra de Antonio Manuel
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Certos artistas transformaram-se em autores
de uma obra só. Esse é o
caso de Antonio Manuel e seu
trabalho "Corpobra", de 1970,
no qual ele propunha seu próprio corpo como obra e que tem
sido exaustivamente exibido.
"Fatos", no CCBB, com curadoria de Paulo Venancio Filho,
aponta que o universo do artista é muito mais abrangente,
sem aprisioná-lo apenas ao
passado, apresentando ainda
sua produção atual.
Dos anos 60 e 70, duas séries
vistas em amplitude ganham
destaque: os 50 "Flans", realizados entre 1968 e 1975, feitos
em matrizes de jornais, com
histórias inventadas, muitas
delas comentários à ditadura
militar ou à própria história da
arte, obras com certo espírito
pop, e as cinco peças de "Repressão Outra Vez, Eis o Saldo",
de 1968, que necessita da participação ativa do espectador,
trabalho integrado às propostas neoconcretas da época. E há
também, claro, "Corpobra".
Todas essas obras são claramente políticas, integradas ao
contexto do país naqueles anos,
enquanto nos trabalhos mais
recentes, criados a partir dos
anos 80, como as pinturas
"Barco" ou "Usina", a abstração
passa a dominar, como se restassem apenas formas.
Problemática é a instalação
"Lúdico", na entrada do CCBB,
composta por um muro cercando um monte de serragem e
grama, que teve um bode na
abertura e posteriormente só o
registro em vídeo do animal. É
estranho que o bode estivesse
só na abertura -o trabalho seria mais bem realizado com sua
presença, como fez Nuno Ramos com burros no Instituto
Tomie Ohtake. A impressão é
que a obra não está realizada.
A exposição ganha mais contundência quando o contexto
novamente interfere na obra
do artista, como em "Ocupações/Desdobramentos", muros
em forma labiríntica com buracos onde o espectador pode
passar. A obra, assim como na
fase neoconcreta, aborda a cor
e a presença do público, mas
agora é a violência que se torna
a primeira referência, nos buracos irregulares por onde se
pode escapar da clausura, como
em tantos buracos de prisões.
FATOS - ANTONIO MANUEL
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112,
tel. 3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 9h às 20h;
até 8/7
Quanto: entrada franca
Cotação: bom
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