São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2007

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Crítica/artes plásticas

Contexto atual faz crescer obra de Antonio Manuel

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Certos artistas transformaram-se em autores de uma obra só. Esse é o caso de Antonio Manuel e seu trabalho "Corpobra", de 1970, no qual ele propunha seu próprio corpo como obra e que tem sido exaustivamente exibido.
"Fatos", no CCBB, com curadoria de Paulo Venancio Filho, aponta que o universo do artista é muito mais abrangente, sem aprisioná-lo apenas ao passado, apresentando ainda sua produção atual.
Dos anos 60 e 70, duas séries vistas em amplitude ganham destaque: os 50 "Flans", realizados entre 1968 e 1975, feitos em matrizes de jornais, com histórias inventadas, muitas delas comentários à ditadura militar ou à própria história da arte, obras com certo espírito pop, e as cinco peças de "Repressão Outra Vez, Eis o Saldo", de 1968, que necessita da participação ativa do espectador, trabalho integrado às propostas neoconcretas da época. E há também, claro, "Corpobra".
Todas essas obras são claramente políticas, integradas ao contexto do país naqueles anos, enquanto nos trabalhos mais recentes, criados a partir dos anos 80, como as pinturas "Barco" ou "Usina", a abstração passa a dominar, como se restassem apenas formas.
Problemática é a instalação "Lúdico", na entrada do CCBB, composta por um muro cercando um monte de serragem e grama, que teve um bode na abertura e posteriormente só o registro em vídeo do animal. É estranho que o bode estivesse só na abertura -o trabalho seria mais bem realizado com sua presença, como fez Nuno Ramos com burros no Instituto Tomie Ohtake. A impressão é que a obra não está realizada.
A exposição ganha mais contundência quando o contexto novamente interfere na obra do artista, como em "Ocupações/Desdobramentos", muros em forma labiríntica com buracos onde o espectador pode passar. A obra, assim como na fase neoconcreta, aborda a cor e a presença do público, mas agora é a violência que se torna a primeira referência, nos buracos irregulares por onde se pode escapar da clausura, como em tantos buracos de prisões.


FATOS - ANTONIO MANUEL
Onde:
CCBB (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 9h às 20h; até 8/7
Quanto: entrada franca
Cotação: bom


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