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Bortolotto dirige peça sobre amizade e mágoas
Reencontro de triângulo amoroso é tema de "Tape", de Belber, que estréia amanhã
Espetáculo que entra em cartaz no teatro Sérgio Cardoso põe três amigos de colégio num quarto de hotel passando histórias a limpo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mal-ajambrado triângulo amoroso de dez anos atrás
implode de vez no reencontro
de dois rapazes e uma garota
que se conheceram no colegial.
Encerrados no quarto de um
hotel, eles passam a limpo as
mágoas juvenis que, sobretudo
nos homens, deixaram um travo na garganta.
"A peça fala de amigos magoados", diz o diretor Mário
Bortolotto, 45. Magoados porque Vince namorou com a moça, mas foi Jon quem transou
com ela, como está amarrado
em "Tape", do americano Stephen Belber, produção independente (leia-se sem patrocínio ou prêmios) que a Cia. Provisório-Definitivo estréia amanhã, no teatro Sérgio Cardoso.
Jon virou cineasta. Vince,
traficante. E Amy, o vértice
amoroso, advogada. Ela surge
da metade em diante, quando
Vince já "pegou pesado" com a
cocaína e com o ardil que arma
para o "muy amigo", convencendo Jon de que aquele sexo
"selvagem" com Amy na verdade foi um "estupro". Às agressões física e verbal, misturam-se culpas e hipocrisias nem
sempre sinceras.
Até que Amy bate à porta do
quarto, conforme a bem bolada
articulação de Vince, que tomou o cuidado ainda de gravar
toda a lábia confessional de Jon
sobre remorsos do passado. A
fita cassete, convertida a "prova
do crime", expõe ainda mais o
ridículo a que os homens estão
se submetendo.
"Quando a mina entra na parada, ela arrebenta com os dois.
Eu entendo o sentimento
egoísta deles", diz Bortolotto.
Identificação com Belber
Diretor convidado, ele identificou-se com a dramaturgia
de Belber, de frases curtas, de
não-julgamento dos personagens. A tônica é do seu grupo, o
Cemitério de Automóveis, já
que também adaptou o texto e
assina desenho de luz e trilha.
"A inversão de papéis nos
chamou a atenção: o mocinho
que tem lá o seu lado obscuro e
o sujeito aparentemente obscuro que mostra seu lado ingênuo", diz o ator Pedro Guilherme, 27, que contracena com
Marcelo Selingardi (Vince) e
Carolina Fauquemont (Amy).
Quem sugeriu a montagem
de "Tape" foi o ator Henrique
Stroeter, dos Parlapatões, que
assistiu à versão para o cinema
da peça de Belber (de 1964), sob
roteiro do próprio, pelo diretor
Richard Linklater, em 2001,
com Ethan Hawke e Uma
Thurman no elenco.
A Cia. Provisório-Definitivo
foi criada em 2001 e costuma
trabalhar com textos realistas
nas produções para o público
adulto. Entre os espetáculos,
estão "Verdades, Canalhas", de
Mário Viana, "O Colecionador", de John Fowles, "Bulgóia,
Repenique & Tropeço", de Hugo Possolo e Arnaldo Soveral, e
"Todo Bicho Tudo Pode Sendo
o Bicho que se É", de Pedro
Guilherme.
TAPE
Onde: teatro Sérgio Cardoso -sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa,
153, tel. 3288-0136)
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb.,
às 21h30, e dom., às 20h; até 29/6
Quanto: R$ 10 a R$ 20
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