São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Nuno Ramos mistura Coca-Cola, petróleo e formol para driblar a morte

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um ano de morte, Nuno Ramos diz acreditar na vida plástica. Ele montou, em Brasília, um viveiro de urubus ao som de marchas fúnebres e, no Rio, um monte de feno ceifado por mulheres de preto, mas agora cria algo mais "pra cima".
"Sem demagogia, quis dizer "foda-se" à morte", afirma. No galpão da Fortes Vilaça, o artista montou três grandes chapas, uma de vidro, outra de mármore e a terceira de quartzo. Cada uma é atravessada por um tubo de vidro que mistura líquidos opostos: na ordem, formol e soro fisiológico, oposição entre morte e vida, Coca-Cola e petróleo, o industrial contra o geológico, e vinagre e vaselina, o azedo e o erótico.
Além das chapas, presas à parede por dobradiças metálicas -um aceno a Lygia Clark e Amílcar de Castro-, está no galpão o vídeo da performance "Fodasefoice", aquela do feno: uma mulher se movimenta de acordo com o grito "foda-se", enquanto a outra é acionada pelo "foice" que sai de duas caixas de som.
"É uma coisa com o tempo, não é bem uma performance, é mais uma poesia dramatúrgica", descreve Ramos, que lança no mês que vem mais um livro de ficção, "Ó", em que desdobra suas formas numa prosa poética sobre "arquitetura ruim e vida extraterrestre". "É nesse pingue-pongue que o trabalho funciona."
Por isso é bem pouco hermética a instalação, que chega a estampar etiquetas com o nome dos líquidos dentro das ampulhetas, a multidisciplinaridade típica da obra do artista. "Isso ajuda a colocar o ato escultórico no horizonte poético", diz. "Acredito na vida plástica mas também acredito na possibilidade de a vida plástica se incrustar na poesia." (SM)


NUNO RAMOS
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 27/9
Onde: Fortes Vilaça (r. James Holland, 71, tel. 3392-3942; livre)
Quanto: entrada franca



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