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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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ARTES VISUAIS

Adriano Pedrosa reúne 43 artistas em torno do conceito de abstração geométrica na galeria Fortes Vilaça

Curador mostra geometria contaminada

Greg Salibian/Folha Imagem
Obras de Rui Toscano (esq.), Damián Ortega (dir.) e Olafur Eliasson


JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O título da exposição é e não é uma ironia. A pesquisa do curador Adriano Pedrosa aponta diversas possibilidades de leitura de obras contemporâneas como "abstração geométrica". E esta é, sem dúvida, "nova" se comparada à produção do concretismo paulistano nos anos 50. Entretanto, a contaminação do conceito, assim como do espaço, é tamanha que a última coisa a se esperar da mostra em cartaz na galeria Fortes Vilaça é a apresentação de uma "nova tendência".
Curadoria de mão forte em tempos de resistência à hegemonia curatorial, a exposição não esconde que trabalhos foram pinçados de produções que nada têm a ver com a abstração geométrica para ilustrar o conceito de "nova geometria". Assim, o espectador se depara com obras de Adriana Varejão, Carla Zaccagnini, Cildo Meireles, Mauro Restiffe, Marepe, Rivane Neuenschwander e Vik Muniz, para ficar nos exemplos mais gritantes de "desde quando esse artista é um "abstracionista geométrico'?".
Um dado importante: Adriano Pedrosa conversou com todos os artistas, que não apenas aceitaram ter obras incluídas na mostra como, em alguns casos, produziram trabalhos especialmente para ela. Ou seja, a curadoria prova que o mito modernista da grade como estrutura antinarrativa por natureza, teorizado por Rosalind Krauss, não foi abolido das preocupações artísticas na contemporaneidade. Mesmo que, em geral, os artistas se apropriem da "grade" para questioná-la.
As fotografias de Frank Thiel, Damián Ortega e Luisa Lambri, os desenhos de Rui Toscano, Jorge Macchi e Rodrigo Matheus (este "desenhando" com formulários sobre um mural de feltro verde), por exemplo, flagram a grade na arquitetura e nas paisagens urbanas, construindo narrativas.
A exposição está dividida em alguns "blocos temáticos". Em todos eles os trabalhos interferem descaradamente um no outro: "Um pequeno desrespeito às boas regras da montagem", nas palavras de Adriano Pedrosa. No térreo, separadas pelas esculturas em alumínio e acrílico colorido do inglês Liam Gillick, a seção de grades em espaços privados (ou abstratas) e a seção de grades em espaços públicos. Entre as grades da intimidade, a pintura "Bathroom Floor (Blue)", de Sarah Morris, que participou da 25ª Bienal de São Paulo. Entre as públicas, o "Embutidinho", de Marepe.
O núcleo seguinte é dedicado aos "cubos brancos". Os dois trabalhos da alemã Sabine Hornig, uma fotografia de um ponto de ônibus na Grécia e uma escultura em alumínio representando o mesmo ponto de ônibus, assim como as metalinguagens de Valdirlei Dias Nunes (a caixa, a fotografia da caixa e a pintura representando a caixa), tão apropriados para exibição no "espaço neutro" do cubo branco, provocam um ruído a mais na construção contaminada de Pedrosa.


A NOVA GEOMETRIA. Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066); ter/sex., 10h/19h; sáb., 10h/17h; até 17/1. Grátis.



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