São Paulo, quinta-feira, 01 de dezembro de 2005

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TEATRO

Com ótimas interpretações de Edwin Luisi e Herson Capri, peça obrigatória retrata amizade entre judeu e alemão

"Triunfo Silencioso" mergulha em desvario nazista

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Triunfo Silencioso" está em cartaz em um teatro novo e excelente, com um texto instigante, direção inteligente e um elenco excepcional. E, no entanto, a temporada tem passado quase despercebida.
Baseada na novela "Destinatário Desconhecido", na qual a jornalista Katherine Taylor, em 1938, denuncia o nazismo, a peça narra a relação entre o judeu alemão Max Eisenstein e seu amigo Martin Schulse, com quem tem uma galeria em San Francisco. Martin volta para a pátria na ascensão de Hitler, e as cartas que trocam revelam a adesão do "homem de bem" ariano à ideologia nazista.
Filho de sobreviventes do Holocausto, o diretor Bernardo Jablonski tem a dimensão exata da dor por trás da aparente singeleza dessa crônica; psicólogo social e professor de teatro, tem também o distanciamento necessário para poder encená-la.
Não que seja irretocável. O desafio de conduzir toda a ação por meio de monólogos sobrepostos parece, no início, condená-la à monotonia, não evitada pelo uso sistemático, ao separar uma carta da outra, de projeções de imagens da época e elegantes vinhetas. O simbolismo elegante, mas um pouco óbvio, do cenário e a luz inteligente têm o mérito de deixar a responsabilidade para os atores.
É nesse aspecto que o espetáculo se torna imperdível. Apóia-se na interpretação, na inflexão dos atores. Edwin Luisi (Max) começa afetado, com movimentos exagerados e uma tensão na voz que tem o mérito de fazer o público se identificar com o "vilão", o elegante de Herson Capri (Martin).
Capri tem nesta montagem uma de suas melhores atuações. Coloca a voz com elegância de timbre e ritmo, mas abandona as pausas benévolas por um ardor crescente até a histeria. Evita o maniqueísmo ao mostrar como o desvario nazista arruinou a auto-estima de judeus e arianos.
Luisi vai conquistando uma contenção comovente e, nas cartas finais, quando destrói o amigo com frases aparentemente amáveis e banais, dá uma aula de interpretação de subtexto. Sessenta anos depois do final da Segunda Guerra, o ovo da serpente da intolerância e do fanatismo está sempre pronto para ser chocado. "Triunfo Silencioso", até como antídoto, é uma peça obrigatória.


Triunfo Silencioso
   
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 18h. Até 29/1
Onde: teatro Fecomercio (r. Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, tel. 3188-4141)
Quanto: R$ 40 e R$ 50


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