São Paulo, terça-feira, 01 de dezembro de 2009

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"Entre a Luz e a Sombra" mergulha no sistema carcerário de São Paulo

Projeto parte de registro do dia a dia dos rappers Dexter e Afro-X no Carandiru

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Entre a Luz e a Sombra" é resultado da obstinação e dos tropeços de cinco pessoas que, apesar de origens e histórias diversas, tiveram os destinos entrelaçados. A primeira é a diretora, Luciana Burlamaqui, que passou sete anos com a câmera voltada para figuras que, em seu entender, poderiam responder à questão proposta pelo filme: "O que há por trás de quem entra na vida do crime e quais as chances de sair dela?".
Ladeando a busca da diretora, está Sophia Bisiliatt, mulher de classe média que deixou a carreira de atriz para dar aulas de teatro no Carandiru e acabou por se casar com um preso.
A espelhá-las, por oposição, estão Marcos, conhecido como Dexter, e Christian, o Afro-X, garotos crescidos na periferia que, adultos, se encontraram no Carandiru. O número da cela, 509 E, deu nome ao grupo de rap que os fez famosos.
O quinto personagem é o juiz Octávio de Barros Filho. Ao autorizá-los a sair da prisão para shows, tornou possível, por um tempo, o sonho do 509 E. "Eles não tinham esse direito, fui contra a lei", admite. "Eu acreditava na socialização. Hoje, quero me aposentar."
Burlamaqui tenta dar conta desse redemoinho em que romance, música, justiça e crime se alimentam e se podam. Se, num momento, a arte é promessa de recuperação, no instante seguinte parece virar pó.
A diretora, de início interessada no caso dos rappers, deixou-se levar por essa roda-viva.
Da tumultuada relação entre Sophia e Dexter às rebeliões nos presídios, à implosão do Carandiru e aos ataques do PCC, o filme tenta abordar tudo o que o cercou. É essa sua força como documento e sua fragilidade como cinema.
A longa duração e o improviso de certas cenas são barreiras para o espectador. O mergulho radical no assunto é, por outro lado, o que traz à tona o país do Carandiru, de Simony, ex-mulher de Afro-X, de Gugu e dos celulares clonados.
Dexter, que continua preso, fez circular pela internet a informação de que se sentiu enganado pelo projeto. Câmeras desligadas, o filme continua.

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