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"Entre a Luz e a Sombra" mergulha no sistema carcerário de São Paulo
Projeto parte de registro do dia a dia dos rappers Dexter e Afro-X no Carandiru
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Entre a Luz e a Sombra" é
resultado da obstinação e dos
tropeços de cinco pessoas que,
apesar de origens e histórias diversas, tiveram os destinos entrelaçados. A primeira é a diretora, Luciana Burlamaqui, que
passou sete anos com a câmera
voltada para figuras que, em
seu entender, poderiam responder à questão proposta pelo
filme: "O que há por trás de
quem entra na vida do crime e
quais as chances de sair dela?".
Ladeando a busca da diretora, está Sophia Bisiliatt, mulher
de classe média que deixou a
carreira de atriz para dar aulas
de teatro no Carandiru e acabou por se casar com um preso.
A espelhá-las, por oposição,
estão Marcos, conhecido como
Dexter, e Christian, o Afro-X,
garotos crescidos na periferia
que, adultos, se encontraram
no Carandiru. O número da cela, 509 E, deu nome ao grupo de
rap que os fez famosos.
O quinto personagem é o juiz
Octávio de Barros Filho. Ao autorizá-los a sair da prisão para
shows, tornou possível, por um
tempo, o sonho do 509 E. "Eles
não tinham esse direito, fui
contra a lei", admite. "Eu acreditava na socialização. Hoje,
quero me aposentar."
Burlamaqui tenta dar conta
desse redemoinho em que romance, música, justiça e crime
se alimentam e se podam. Se,
num momento, a arte é promessa de recuperação, no instante seguinte parece virar pó.
A diretora, de início interessada no caso dos rappers, deixou-se levar por essa roda-viva.
Da tumultuada relação entre
Sophia e Dexter às rebeliões
nos presídios, à implosão do
Carandiru e aos ataques do
PCC, o filme tenta abordar tudo o que o cercou. É essa sua
força como documento e sua fragilidade como cinema.
A longa duração e o improviso de certas cenas são barreiras
para o espectador. O mergulho
radical no assunto é, por outro
lado, o que traz à tona o país do
Carandiru, de Simony, ex-mulher de Afro-X, de Gugu e dos
celulares clonados.
Dexter, que continua preso, fez circular pela internet a informação de que se sentiu enganado pelo projeto. Câmeras
desligadas, o filme continua.
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