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São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2003

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DANÇA

Evento reunirá desde participantes da origem do movimento a nomes que dialogam com a arte japonesa

Gerações examinam o butô e seus reflexos contemporâneos

Divulgação
Cena de coreografia do grupo Buto-sha Tenkei, que estará no evento "Vestígios do Butô", no Sesc


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

No palco: expressões do butô. Nos bastidores: workshops, discussões e investigações; para completar, uma exposição. Várias gerações reúnem-se para esse evento que examina os "Vestígios do Butô" na cena contemporânea; e também para homenagear Takao Kusuno (1945-2001), artista multidisciplinar radicado no Brasil em 1977.
Kusuno -responsável pela introdução do butô no Brasil, na década de 70- fundou, em 1995, a Cia. Tamanduá de dança-teatro. Emilie Sugai, uma das integrantes da companhia, ressalta que, para recriar esses trabalhos, os dançarinos usam a "memória corporal", somada às indicações particulares que Kusuno deixou.
A memória (individual ou coletiva) é um dos grandes temas do butô, que Kusuno procurou encontrar em "seu próprio umbigo", ao trabalhar com a realidade brasileira. Como lembra Sugai, Kusuno não gostava de rótulos; de modo genérico, dizia que seu trabalho era de dança-teatro. Mas também usava "butohteki" ("butônico") para indicar "a essência da filosofia do butô: a relação de nascimento, vida e morte".
Ao longo do evento, estarão em cena Yoshito Ohno e Akira Kasai, Ebisu Torii e Mutsuko Tanaka, Yukio Waguri, Mitsuru Sasaki, Ismael Ivo, Renée Gumiel, Marta Soares e a Cia. Tamanduá, compondo juntos um panorama dos caminhos do butô. A programação reúne desde participantes da origem do movimento, como Ohno, até membros da segunda geração do butô, como Waguri, e outros artistas que dialogam, de modo mais ou menos direto, com a dança japonesa.
Waguri fala da transformação do butô: "Na primeira geração, "anos 60", os artistas se rebelaram contra a dança moderna. Já na segunda fase, década de 70, mais do que destruir era importante construir. Atualmente, uma avalanche de informações orbita ao redor do butô". Para ele, o butô agrega "um espaço imaginário, próprio do surrealismo, com outro espaço denotativo, dos teatros nô e kabuki". Em outras palavras, "é como se as representações do Oriente e do Ocidente estivessem presentes no butô".
São idéias que devem aparecer nas palestras do ciclo: Christine Greiner falará sobre os vestígios do butô no Ocidente; Eliane Robert Moraes, sobre a experiência artística da fragmentação corporal proposta por George Bataille e Hans Bellmer; Shigehisa Kuriyama estudará distinções entre a anatomia ocidental e a oriental; e Cassiano Sydow Quilici vai invocar o teatrólogo Antonin Artaud, mais especificamente o "corpo sem órgãos": "expressão que designa outro modo de apreensão do próprio corpo. Ela implica na dissolução de automatismos e representações que temos do "organismo", pelo refinamento da percepção de sensações ínfimas, oscilantes, não codificadas".
No Espaço Cultural da Fundação Japão, em "O Universo de Kazuo Ohno: Imagens e Mensagens Fotografias + Textos + DVD", serão apresentadas 24 fotos de Yuji Kusuno (irmão de Takao), acompanhadas de 24 poemas do livro "Palavras de Treino", de Kazuo Ohno, traduzidos por Tae Suzuki. Durante a exposição serão exibidos filmes sobre Ohno.
Tudo somado, serão bem mais que vestígios do butô. Se a dança e o teatro contemporâneos têm tantos laços com o butô, não é pela atração pitoresca do estranho. O fascínio é de outra ordem: o butô está presente em muitas vertentes da produção atual, nutrindo de dentro o que se tem, abrindo caminho para o que virá.

VESTÍGIOS DO BUTÔ. Quando: de amanhã até 10/9 (até o dia 12 em outras cidades). Onde: Teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000). Quanto: de R$ 10 a R$ 20. Realização: Sesc São Paulo e Fundação Japão.


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