CARLOS CALADO
especial para a Folha

A formação lembra um conjunto de câmara europeu, mas a música soa essencialmente popular e brasileira. Assim é o Quarteto Jobim-Morelenbaum, que toca hoje e amanhã, no teatro do Sesc Vila Mariana.
Lançando seu primeiro CD (pelo selo Velas), o grupo carioca começa a reverter uma situação incomum. Desde sua estréia oficial, em um concerto dedicado a Tom Jobim (1927-1994), quatro anos atrás, em Nova York, o QJM tem se apresentado muito mais no exterior do que no Brasil.
"Agora já temos até empresário. Tocar mais aqui vai ser bom, inclusive porque é mais perto", brinca o violonista e cantor Paulo Jobim (filho de Tom Jobim), que forma o quarteto com seu filho Daniel Jobim (piano), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Paula Morelenbaum (voz).
O repertório contempla as diversas fases do universo musical jobiniano: dos sambas pré-bossa nova ("A Felicidade", "Eu e o Meu Amor/Lamento no Morro") aos clássicos imortais da bossa.
Não faltam também composições dos anos de maturidade ("O Boto", "Águas de Março" e "A Correnteza"), que flagram um Jobim ligado à música nacionalista de Villa-Lobos, sem jamais ficar à sombra do mestre.
Além da original concepção dos arranjos, que renovam o sabor das peças mais conhecidas, os vocais de Paula e Daniel (cujo timbre lembra muito o do avô) também exibem um brilho especial. Nas mãos e vozes do QJM, a obra de Tom Jobim é tratada com o devido refinamento musical.