|
Próximo Texto | Índice
"VESTIR O PAI"
Direção de Paulo Autran e texto de Mário Viana valorizam trabalho do elenco em comédia sobre família
Peça consagra a atriz Karin Rodrigues
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
|
Karin Rodrigues, Leona Cavalli e Otávio Martins em cena da comédia "Vestir o Pai", peça com direção de Paulo Autran e texto de Mário Viana |
CRÍTICO DA FOLHA
Não é difícil deduzir o que foi
que levou Paulo Autran a dirigir "Vestir o Pai". Aparadas as
insolências mais escabrosas do
sempre provocador Mário Viana,
o seu texto, respeitando rigorosamente as unidades de tempo, lugar e tema, se presta a um bom
exercício de atores, principal foco
de interesse do ator/diretor.
Para contar a tomada de consciência de Alzira, sessentona de
classe média que vê sua vida tomar outro sentido diante da morte iminente de seu marido, desmistificando assim não só a imagem do "chefe de família trabalhador" como também a pretensa
modernidade do filho e filha, no
fundo presos também às armadilhas das convenções, Autran exigiu pouco do cenário de George
Freire -que chega a utilizar um
antiquado telão pintado simulando a paisagem da janela- e a iluminação de Elias Andreato, quase
que apenas uma luz geral.
Atrizes
Autran dirige o espetáculo em
função dos atores -e sobretudo
de uma atriz, sua companheira de
sempre, Karin Rodrigues.
É como se Alzira, que sempre
viveu generosamente em segundo
plano, bastando-se em ser aquela
que "segurava as pontas" da família, fosse o alter ego de uma atriz
que se destacou antes de tudo como coadjuvante, na função injustamente menosprezada de "escada" para os protagonistas.
É a vez então de Karin Rodrigues ser protagonista, e ela não
desperdiça um só momento.
Ganha imediatamente a empatia da platéia justamente ao se
despojar de qualquer glamour, alternando rapidamente uma
ameaça de tom melodramático
com o pragmatismo das decisões
a serem tomadas.
Emblematicamente, trata-se
antes de tudo de escolher, com o
marido ainda vivo, a roupa que
ele irá usar no caixão, o que dá
margem a um humor ao mesmo
tempo transgressor e terno.
Metáfora
A situação tragicômica rapidamente se desdobra em metáfora:
vestir o pai é tentar manter sua
dignidade mesmo revelando-se
progressivamente o canalha que
ele foi.
Mas isso não resulta em conformismo, em um reacionarismo comum em comédias populares.
Como a Nora de "Casa de Bonecas" de Ibsen, mas uma Nora de
periferia e de terceira idade, Alzira
redescobre sua função de dona-de-casa, reafirmando exemplarmente sua dignidade.
Colaborada pela discreta simpatia de Otávio Martins, e pela
contenção generosa de Leona Cavali que, acostumada a fortes protagonistas, mantém uma discrição que quase chega no formalismo, Karin Rodrigues faz assim de
Alzira uma personagem tão forte
quanto a Romana do "Eles Não
Usam Black-Tie", de Guarnieri,
ou a Joana de "Gota d'Água" de
Chico Buarque e Paulo Pontes.
Por sua atuação, a ida ao teatro se
faz indispensável.
(SERGIO SALVIA COELHO)
Vestir o Pai
Texto: Mário Viana
Direção: Paulo Autran
Com: Karin Rodrigues, Leona Cavalli e
Otávio Martins
Quando: de qui. a dom., às 19h30; até
1º/6
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Álvares Penteado, 112, região central,
tel. 3113-3651)
Quanto: R$ 15
Patrocinador: Banco do Brasil
Próximo Texto: Teatro: Peça inédita de Dionisio Neto recebe leitura Índice
|