São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Peréio apresenta sua "night" paulista

Freqüentador de bares e baladas da cidade, ator dá dicas que vão de karaokê na Liberdade a tradicionais cantinas italianas

Morador do centro, Paulo César Peréio diz que ali é bom porque "não dá para piorar" e torna a vida sem automóvel muito fácil


Tuca Vieira/Folha Imagem
Paulo César Péreio na sacada de sua cobertura, em São Paulo; segundo o ator, mictório "homenageia" obra de Marcel Duchamp
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator gaúcho Paulo César Peréio, 65, carioca por adoção, tem andado por aí, cada vez mais paulistano.
Morador da cidade desde 2001, há dois anos se mudou para a cobertura de um prédio na rua Francisca Miquelina. "Gosto de morar no centro", ele diz.
Quando a reportagem da Folha chegou por lá, na tarde da última terça-feira, fazia um frio de 12 C, e o apartamento do ator, portas e janelas abertas, acolhia na varanda um grupo de cineastas pernambucanos também interessados na sua relação com a cidade (e com a cobertura, tema do documentário que preparam).
Peréio mostra o emaranhado de prédios cinzas e feios como o céu da cidade ao seu redor e explica: "Gosto daqui porque não dá para piorar. Já chegou no limite. Vai ficar assim para sempre, o que dá um certo senso de eternidade".
Além disso, continua, morar no centro também confere alguma independência, "tudo é mais fácil, não precisa de automóvel". É logo ao lado de seu prédio, por exemplo, que se encontra a primeira "parada" no tour virtual que aceitou fazer para a reportagem em seus lugares favoritos em São Paulo.
É no bar Toca da Raposa, diz Peréio, responsável pela preparação de ótima feijoada -e boa rabada às terças-, que ele geralmente almoça. Dali é também um pulo até o teatro Oficina -"minha vida sempre esteve paralela à do Zé Celso"- ou, ainda a pé, até os "excelentes sebos" da Liberdade.

Argentina
Errante, Peréio diz que passou um bom tempo de sua vida sem residência fixa. "Sempre fui muito avulso." Na verdade, ele afirma já ter nascido "do lado errado da fronteira". "Gosto muito da Argentina. Na Copa, torci por eles. Torcer para a Nike não dá", declara.
Estava de vez no Rio na década de 90 quando, "muito detonado" por ali, resolveu "dar um tempo" em Goiás. Volta rapidamente ao Rio e, depois, São Paulo. "Sou considerado carioca. Nunca fui adotado como paulista."
Simpatizante da causa do erro e inimigo do script, Peréio explica que seu programa no Canal Brasil -"Sem Frescura"- "não tem briefing" nem roteiro. "Se não pode errar, você bota o erro no poder -e ninguém acerta nada", pontifica.
(Rápido comentário sobre o nome do programa. Aos entrevistadores pernambucanos, Peréio diz que "é claro que o programa tem frescuras". "Não dá para fazer um programa cultural sem frescuras.")
De volta à causa da autenticidade. "No futebol, quando os jogadores brigam, o locutor sempre diz que é "um espetáculo deprimente". Não acho nada deprimente. Acho do cacete uma porrada no futebol. É inesperado. Mas o locutor se sente na obrigação, quase religiosa, e deprimente, de dizer que é deprimente. Não sei como é que estão formando os jornalistas hoje em dia."
O esporte que anda praticando na cidade, no entanto, é a sinuca, de preferência na Choperia Liberdade, localizada no bairro de mesmo nome. "Tem lá um karaokê com umas mesas de sinuca muito boas", explica. Karaokê, para ele, é um lugar em que "as pessoas pagam para desafinar". Ele, não. "Eu sou afinado, para quê vou pagar?"
O ator afirma que não é mais "muito chegado" na "night" (equivalente carioca para "balada"), mas defende que os cariocas, "ao chegarem a São Paulo, enlouquecem".
"De vez em quando, dou uma desbundada por aí." Onde? "Não quero levantar a bola de lugar nenhum", esquiva-se.
Ato contínuo, o ator elogia o Pasquale, restaurante italiano no Sumaré, mas diz que "está difícil ir lá, anda cheio, tem que pegar o táxi".
Continua a entrevista com a gloriosa equipe de cineastas de Pernambuco. Volta o assunto da cobertura e a grande varanda quase vazia, sem móveis. "Vou deixar assim, vazio, sem nada. Gosto do lugar vazio. Gosto muito também de ficar sozinho. Quero viver sozinho. Lembro que muitas vezes me diziam: "Desse jeito, você vai acabar sozinho". E eu pensava: "Ah, que beleza!'".
O próximo trabalho de Peréio será solitário. Ele prepara para outubro um monólogo escrito pelo paulistano Fernando Bonassi. "Pedi uma peça para ele. É a história de um cara que acorda com o pau enorme, e fica para sempre priápico. A vida dele muda em função disso."


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