Grupo familiar, da terra natal de Mozart, foi criado no final da década de 70

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Sociedade de Cultura Artística abre as portas para um dos mais bem-sucedidos empreendimentos familiares da música erudita. Tendo cancelado em duas ocasiões anteriores sua vinda ao Brasil, o Quarteto Hagen finalmente se apresenta por aqui.
Salzburgo, terra natal de Mozart, é também a cidade nativa dos irmãos Lukas (primeiro violino), Angelika (segundo violino), Veronika (viola) e Clemens (violoncelo) Hagen, que criaram o grupo no final dos anos 70.
Angelika pulou fora em 1981, cedendo o posto a Annette Bik, que, por sua vez, foi substituída em 1987 pelo alemão Rainer Schmidt, que leciona na Basiléia (Suíça), e ocupa o cargo de segundo violino do quarteto até hoje. "Na hora de tocar, não faz diferença quem é da família e quem não é, embora, às vezes, nos ensaios, eles se tratem de um jeito que só é possível entre irmãos", conta.
O grupo mostra em São Paulo um repertório que, a cada noite, contrasta uma obra de Dmitri Chostakóvitch (1906-1975) a uma peça de um autor do classicismo vienense.
Assim, hoje serão ouvidos o terceiro quarteto do compositor russo, e o "Quarteto op. 51" de Franz Joseph Haydn (1732-1809) -com o título "As Sete Últimas Palavras de Cristo", a obra, de finalidade litúrgica, tem um movimento para cada uma das derradeiras sentenças proferidas por Jesus. Ficam para amanhã o oitavo quarteto de Chostakóvitch e o magistral "Quarteto em Sol Maior" de Franz Schubert (1797-1828).
A eleição das criações do autor de São Petersburgo está longe de ser fortuita.
Para celebrar o centenário de nascimento de Chostakóvitch, o Quarteto Hagen, conhecido pelo caráter limpo e preciso de suas interpretações, lançou, no ano passado, pela Deutsche Grammophon, um CD contendo as obras que vai apresentar por aqui.
"Vamos tocar no Brasil quatro peças bastante substanciais", explica Schmidt. "Claro que existe muito contraste entre Chostakóvitch e o classicismo, mas as pessoas que assistirem aos dois programas vão perceber que há também uma ponte entre as obras."