São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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Talento de Claudia Raia faz evoluir o musical brasileiro

João Caldas/Divulgação
O elenco de "Sweet Charity', com Claudia Raia (a 4ª da esq. à dir.)


SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Sweet Charity" se anuncia como uma evolução no processo de implantação da Broadway no Brasil. Desta vez, a CIE não patrocina uma fotocópia autenticada por contrato, como no teatro Abril. Claudia Raia, dona dos direitos autorais, tomou o cuidado de garantir que os performers compartilhassem da criação do espetáculo.
As liberdades tomadas não são grandes: ainda o que se canta é a medíocre versão de Cláudio Botelho, que faz "ombrão" rimar com "bundão" quando sai do conforto de rimar verbos, e o roteiro é tão próximo do original de Neil Simon que a sinopse pôde ser traduzida da Wikipédia, a enciclopédia livre da internet. A coreografia recriada de Bob Fosse por Alonso Barros mantém o estilo geral e ousa adequadamente trocar um charleston por um samba.
A formação de Claudia Raia, que iniciou sua carreira com "Chorus Line", faz diferença.
Dona de um belo timbre de voz, e sabendo o que fazer de tanta perna, adapta a inocência da prostituta Charity, na origem a franzina Cabíria vivida por Giulietta Masina no filme de Fellini, para uma moleca grandalhona. Encontra parceiros catastróficos como Ricca Barros, que aproveita a ingenuidade da platéia de achar que volume alto é boa interpretação até encontrar um parceiro à altura.
Marcelo Médici salva o espetáculo. Como Oscar, faz valer seu talento de comediante com um ataque de pânico e, quando solta a voz na roda gigante, recria com Raia uma química só vista com Marília Pêra e Marco Nanini. Junto do carismático Edson Montenegro, o pastor pop da Igreja Ritmo da Vida, e de Luiz Pacini, que se multiplica em pequenos papéis, Médici prova que o musical precisa de atores que cantam, e não cantores que recitam sob a medíocre direção de Charles Möeller.
Apesar de uma operação insegura que compromete a luz de Wagner Freire e um cenário e figurino sofríveis, "Sweet Charity", na pizzaria da CIE, é uma pizza aceitável.

SWEET CHARITY   
Onde:
teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, Morumbi, tel. 3188-4141)
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 19h e 22h; e dom., às 18h. Até 29/10
Quanto: R$ 60


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