São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

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Crítica/teatro/"Um Dia, no Verão"

Peça com produção rica e superficial perde força de texto de Fosse

Montagem de Monique Gardenberg para obra de Jon Fosse resulta em espetáculo belo, porém monótono

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Uma mulher olha obsessivamente pela janela de sua casa à beira-mar. Há 25 anos, seu marido saiu para velejar, houve uma tempestade imprevista e ele não voltou.
Como criando vida a partir do reflexo na janela, a mulher se desdobra em duas: a de antes e a de depois do acidente. Não haverá muito mais ação em "Um Dia, no Verão", além da reconstituição serena, com um pouco de humor até, da tragédia. Sendo uma peça de Jon Fosse, o conteúdo está na forma, com diálogos trabalhados ritmicamente.
Monique Gardenberg se cercou de uma equipe competente e garantiu um grande luxo de produção. O cenário de Hélio Eichbauer é de tirar o fôlego, com requintes naturalistas de um amplo mar projetado ao fundo durante toda a peça, e a bela luz de Maneco Quinderê.
Grande trunfo da montagem, a rica produção logo se torna porém seu principal problema. Deslumbra nos primeiros momentos, e depois ofusca totalmente o delicado texto, ao reiterá-lo sistematicamente. A trilha sonora tem igualmente uma eficácia redundante.
Sabendo organizar o espetáculo, Gardenberg deixa os atores à deriva nessa tempestade. Rodam a esmo pelo palco, sem graduar a tensão, e até mesmo a protagonista-narradora não acrescenta em nada à dor ou solidão que tinha 25 anos antes.
Não é incompetência dos atores: Silvia Buarque está segura e concentrada, Renata Sorrah faz questão de demonstrar que sabe ficar contida em cena, em contraste a seu histriônico desempenho na televisão, e os outros atores, em participações menores, são eficientes. Mas não há nenhuma leitura aprofundada, não há direção de ator, além da marca mais ou menos eficaz.
E com tal superficialidade, o texto de Fosse se torna insuportavelmente monótono. Lindo, mas tedioso -como os personagens se referem à própria casa em que estão- é de se perguntar por que escolher fazê-lo, além de Fosse estar na moda.
Comparando estratégias, e não resultados, com um centésimo de recursos, mas se concentrando na performance dos atores, "Roxo", montagem de outro texto seu, o defende com muito mais vigor.
"Um Dia, no Verão" conta com um belíssimo set de cinema e eficientes atores de televisão. Falta teatro.


UM DIA, NO VERÃO
Quando:
sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: regular


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