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Crítica/teatro/"Um Dia, no Verão"
Peça com produção rica e superficial perde força de texto de Fosse
Montagem de Monique Gardenberg para obra de Jon Fosse resulta em espetáculo belo, porém monótono
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Uma mulher olha obsessivamente pela janela
de sua casa à beira-mar. Há 25 anos, seu marido
saiu para velejar, houve uma
tempestade imprevista e ele
não voltou.
Como criando vida a partir
do reflexo na janela, a mulher
se desdobra em duas: a de antes
e a de depois do acidente. Não
haverá muito mais ação em
"Um Dia, no Verão", além da
reconstituição serena, com um
pouco de humor até, da tragédia. Sendo uma peça de Jon
Fosse, o conteúdo está na forma, com diálogos trabalhados
ritmicamente.
Monique Gardenberg se cercou de uma equipe competente
e garantiu um grande luxo de
produção. O cenário de Hélio
Eichbauer é de tirar o fôlego,
com requintes naturalistas de
um amplo mar projetado ao
fundo durante toda a peça, e a
bela luz de Maneco Quinderê.
Grande trunfo da montagem,
a rica produção logo se torna
porém seu principal problema.
Deslumbra nos primeiros momentos, e depois ofusca totalmente o delicado texto, ao reiterá-lo sistematicamente. A trilha sonora tem igualmente
uma eficácia redundante.
Sabendo organizar o espetáculo, Gardenberg deixa os atores à deriva nessa tempestade.
Rodam a esmo pelo palco, sem
graduar a tensão, e até mesmo a
protagonista-narradora não
acrescenta em nada à dor ou solidão que tinha 25 anos antes.
Não é incompetência dos
atores: Silvia Buarque está segura e concentrada, Renata
Sorrah faz questão de demonstrar que sabe ficar contida em
cena, em contraste a seu histriônico desempenho na televisão, e os outros atores, em participações menores, são eficientes. Mas não há nenhuma
leitura aprofundada, não há direção de ator, além da marca
mais ou menos eficaz.
E com tal superficialidade, o
texto de Fosse se torna insuportavelmente monótono. Lindo, mas tedioso -como os personagens se referem à própria
casa em que estão- é de se perguntar por que escolher fazê-lo,
além de Fosse estar na moda.
Comparando estratégias, e não
resultados, com um centésimo
de recursos, mas se concentrando na performance dos
atores, "Roxo", montagem de
outro texto seu, o defende com
muito mais vigor.
"Um Dia, no Verão" conta
com um belíssimo set de cinema e eficientes atores de televisão. Falta teatro.
UM DIA, NO VERÃO
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às
18h
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila
Buarque, tel. 3234-3000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: regular
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