São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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TEATRO - CRÍTICA
Peça mantém crítica corrosiva de Plínio Marcos

Divulgação
Elenco do espetáculo "O Assassinato do Anão do Caralho Grande", que está em cartaz no teatro Sérgio Cardoso


MÔNICA RODRIGUES COSTA
Editora da Folhinha

Talvez o texto de Plínio Marcos "O Assassinato do Anão do Caralho Grande" não seja considerado um dos mais representativos da dramaturgia do autor. Mas mantém o estilo de crítica corrosiva de Marcos, toda composta de clichês, na montagem eficiente de Marco Antonio Rodrigues, que está de volta ao palco, até 25 de outubro, no teatro Sérgio Cardoso.
A vítima é o circo nacional. Paradoxalmente, o espetáculo constrói passo a passo a destruição do Gran Circo Atlas, acampado no interior, onde sofre os preconceitos da população.
No primeiro ato, há um desfile de personagens, cada um apresentando seu número. São movimentos pré-fabricados e alegóricos, em que as palavras perdem a importância, e os elementos não-verbais ganham relevo.
No segundo ato, o foco muda para outros palhaços: o prefeito, a mulher do prefeito, as senhoras beatas, o delegado, toda a cidade, que se rebela contra a presença da trupe mambembe, inventando crimes e ofensas para incriminá-la.
Não é para menos. Os artistas desse picadeiro são absolutamente decadentes. Há um anão tarado, homossexuais, leão desdentado.
Eles são uma espécie de espelho ao contrário dos habitantes do interior do Brasil, que se tornam os atores do espetáculo, são caricaturas humanas. A direção de Rodrigues tinge os tipos comuns de uma tonalidade grotesca mais forte do que a do ridículo circense.
A desconfiança sobre o assassinato do anão é apenas um pretexto. Os artistas são encurralados pelas autoridades, não devido ao julgamento de sua arte, mas para que fique comprovada a eficiência do poder local.
A peça reconstitui as relações entre arte e sociedade num país como o Brasil. O cidadão comum rejeita os artistas, inúteis e miseráveis.
A montagem trata esse tema com deboche, fiel ao estilo de Plínio Marcos. O público não sente pena de nada, somente gargalha com crueldade das humilhações que os circenses sofrem nos interrogatórios policiais.
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Peça: O Assassinato do Anão do Caralho Grande
Direção: Marco Antonio Rodrigues
Elenco: Alunos dos workshops da Oficina Cultural Oswald de Andrade
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 288-0136, Bela Vista)
Quando: quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h
Quanto: R$ 10




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