São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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Djin Sganzerla encena fúria de amante ignorada

Peça "O Belo Indiferente", de Jean Cocteau, recebe tratamento metafórico em montagem que estreia hoje

Monólogo traz dois atores no palco: um deles permanece em silêncio e simboliza a indiferença amorosa

Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Dirceu de Carvalho e Djin Sganzerla em cena da peça "O Belo Indiferente"

DE SÃO PAULO

Vestimentas masculinas repousam sobre cadeiras na cena de "O Belo Indiferente", espetáculo de Jean Cocteau (1889-1963) que estreia hoje em São Paulo.
Elas simbolizam a ausência, tema do monólogo que traz dois personagens e foi escrito pelo artista francês especialmente para Edith Piaf (1915-1963) nos anos 1940.
Num quarto de hotel, uma cantora se desespera diante de seu amante, num exercício de infelicidade, desequilíbrio e dor. O homem silencia. Passa a maior parte da peça escondido atrás de um jornal. Quando sai de seu refúgio, não deixa transparecer nenhum sentimento além de indiferença.
"A personagem é uma flor que se despetala por esse amor, que tem todas as características de um vício: é obsessivo, provoca compulsão, depressão e dependência", resume Djin Sganzerla, que interpreta a protagonista.
Na concepção dos diretores Helena Ignez e André Guerreiro Lopes e da cenógrafa Simone Mina, as cadeiras customizadas são ocupadas pelo público. Espalham-se por todo o espaço, rompendo os limites entre palco e plateia. "Queríamos que o espectador estivesse imerso nesse inferno que a protagonista está vivendo", diz Lopes.
Uma instalação sonora, criação de Gregory Slivar, se espalha na cena. Enquanto parte do público ouve ruídos característicos de um hotel, como vozes ou barulho de elevador, outra parte escuta sons que evocam o universo interior da protagonista.
"Fugimos de um enfoque naturalista", avisa Ignez. A cena é também composta por imagens projetadas de forma fragmentada e elementos cênicos de conteúdo simbólico, como uma cama que se revela um ninho de pedras. "Buscamos revelar o extraordinário existente dentro do cotidiano", explica Lopes.
Ou seja: extrair um discurso poético de uma situação corriqueira, comezinha, sem se furtar a tratar de temas contemporâneos, como indiferença e solidão.
A atriz é mulher de Lopes e filha de Helena Ignez, musa do cinema novo que já protagonizou três vezes "O Belo Indiferente" (duas nos anos 80, uma delas dirigida pelo marido, o cineasta Rogério Sganzerla, e outra nos 90).
Se, por um lado, "O Belo Indiferente" é uma herança familiar, a intenção de Djin é romper tradições: "Não quisemos fazer uma montagem tradicional, mas algo cuja ideia central fosse promover uma experiência compartilhada", resume ela.
(GABRIELA MELLÃO)

O BELO INDIFERENTE
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245; tel. 3234-3000)
QUANDO qui. e sex., às 21h; até 16/12
QUANTO de R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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