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RÉPLICA
Teatro como exercício de liberdade
EMILIO BOECHAT
PETRÔNIO GONTIJO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Durante a ditadura militar, o patrulhamento ideológico execrou vários artistas por insistirem em falar de amor, para
alguns, sinônimo de covardia e
alienação, nunca um ato de resistência. A ditadura caiu.
A crítica do senhor Sérgio Salvia
Coelho (publicada na Ilustrada
em 11/1/03, à pág. E8), ao tentar
atingir o trabalho sério dos profissionais da peça "Tudo de Mim",
mostra a que ponto chega seu patrulhamento ideológico que, ironizando nossa crença nas várias
possibilidades do homem, se esquece de que a verdadeira essência da arte é a transformação.
Entendemos que a crítica de um
espetáculo deva ser feita sobre o
que se vê em cena, e o crítico, perdendo parte do espetáculo por
chegar atrasado, pratica a ferocidade de sua avaliação baseando-se num texto do programa da peça, escrito pela psicoterapeuta
Helena Martins -deselegantemente não mencionada pelo crítico no texto. Ele se equivoca ao
afirmar que a peça dita regras para salvar uma relação, enquanto
ele mesmo se trai ao ditar regras.
Quem é o senhor Sérgio Salvia
Coelho para dizer o que pode e o
que não pode ser encenado sobre
um palco? O teatro pode tudo. Pode ser um exercício de liberdade
para aqueles que não se consomem, vítimas de seu próprio preconceito.
"Tudo de Mim" é um espetáculo que não deita a cabeça no cômodo travesseiro da impossibilidade -onde nos confortamos de
nossos fracassos- e aposta na capacidade do homem de rever seus
valores. Portanto, se isso pode ser
chamado de "teatro de auto-ajuda", nos orgulhamos de fazer parte dessa nova vertente identificada pelo crítico.
Acreditamos que a arte, para ser
intelectualmente válida, não precisa ser hermética, muito menos
chata. Por isso, ao longo de um
ano de processo criativo, tivemos
a preocupação de que no texto
transparecesse somente as vontades de nossos personagens e nunca nosso próprio ego em diálogos
artificiais e auto-indulgentes.
Estamos falando de amor, e o
crítico faz isso parecer, nas entrelinhas, uma banalidade. Nós nos
recusamos a viver envoltos nessa
nuvem de pessimismo da qual é
impossível enxergar uma saída.
A despeito da opinião do crítico,
o público, que tem lotado as sessões de nossa peça no Teatro Folha, ri, se emociona e parece compartilhar de nossa crença na capacidade que o ser humano tem de se transformar.
Emilio Boechat e Petrônio Gontijo são
autores da peça "Tudo de Mim"
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