São Paulo, sábado, 04 de março de 2000


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CINEMA EM CARTAZ
Atriz coadjuvante do filme de Spike Jonze diz estar "constrangida por ganhar bons papéis"
Catherine Keener não quer ser Malkovich

Divulgação
A atriz Catherine Keener, em cena do filme "Quero Ser John Malkovich", em cartaz na cidade


MARGY ROCHLIN
de "The New York Times"

Foi em 1986 que Catherine Keener decidiu que o humor típico das sitcoms talvez não fosse seu forte. De repente ela se viu num palco da CBS, preocupada em como fazer uma platéia de estúdio, num programa transmitido ao vivo, rir de uma piada sem graça.
A capacidade que Keener possui de ser hilária tem tudo a ver com o fato de ela nunca trair quem está se esforçando para isso. É um tipo de trabalho de ator que Spike Jonze -diretor de "Quero Ser John Malkovich", a comédia surreal que traz Keener às telas- qualifica como "discreto". Muito real, mas complicado. Naturalista. "É como se você estivesse assistindo a uma pessoa, e não a um personagem."
Keener faz o papel de Maxine, uma colega de trabalho de Craig, controladora e muito segura de seu próprio poder de atração, de uma maneira que as mulheres francas (mas que duvidam delas mesmas, típicas dos anos 90, que ela frequentemente representa) nunca são.
Mais ou menos na metade do filme, Craig e sua mulher louca por animais de estimação e mal vestida, Lotte (Cameron Diaz), ficam romanticamente obcecados com Maxine -os dois. Jonze, que atribui à sua mulher, Sofia Coppola, a idéia de contratar Keener para o papel, diz que Maxine sempre foi um personagem muito mais complexo do que deixava transparecer.
"Em algumas cenas, Maxine praticamente não tem diálogos", disse Jonze. "E os poucos que tem são curtos e diretos. Achei que seria realmente difícil alguém representar um personagem desse tipo de maneira que não parecesse ser unidimensional."
O diretor conta que Keener tinha tanta certeza de não ser a pessoa certa para o papel que a toda hora propunha que ela mesma fizesse Lotte e que Jonze desse o papel de Maxine a Cameron Diaz, que é sua amiga íntima.

Tapa
Descrevendo uma cena em que Malkovich e Maxine transam no sofá do apartamento dele, Jonze contou: "Em um dos takes, ela deu um tapa na cabeça de Malkovich. O tapa fez um barulho alto, sonoro. Ela pode ter preparado isso com antecedência, mas duvido. Simplesmente lhe deu vontade na hora. A careca de Malkovich estava bem à sua frente e ela simplesmente lhe deu um tapa. Foi simplesmente perfeito".
Keener se formou em inglês e história. "O teatro nunca me atraiu", conta. Na realidade, quando se matriculou em aulas de teatro no segundo ano da faculdade, foi apenas porque a oficina de fotografia na qual queria conseguir uma vaga tinha sido fechada. Gostou de trabalhar no palco e chegou até a receber alguns prêmios como atriz, mas não era esse seu plano de vida.
Depois de se formar, Keener mudou-se para Nova York e trabalhou como assistente da agente de escolha de elenco Gail Eisenstadt. Quando a NBC transferiu Eisenstadt para Los Angeles, Keener a acompanhou.
Mas em 1986, quando ficou sabendo que sofria de câncer do pulmão, Eisenstadt chamou Keener para uma conversa séria e convenceu sua protegida de que ela era capaz de representar. Depois de mexidos alguns pauzinhos, Keener se viu pulando ao lado de Rob Lowe e Jim Belushi numa cena de um concurso de bebida alcóolica em "Sobre Ontem à Noite...".
Agora é Keener que está sendo aplaudida. Isso não faz dela necessariamente uma candidata séria a alguma premiação. A atriz está tão dividida em relação ao agito criado em torno de seu nome e o que ele implica para seu futuro que o nervosismo afetou o nível de decibéis de sua voz alta e rouca.
Indagada por que estava respondendo aos cochichos, Keener disse: "Talvez eu esteja constrangida em dizer que já ando ganhando bons papéis. E que sou uma pessoa de sorte. E que não sei qual será meu próximo passo".


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