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Ruas de São Paulo "ressurgem" em telas de mostra
Exposição de Almeida Júnior, em cartaz na Pinacoteca do Estado, traz quadros que mostram figuras proeminentes
Peixoto Gomide e Eusébio Stevaux estão entre os personagens históricos que posaram para o artista, que supera a imagem acadêmica
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Peixoto Gomide é uma rua
que corta a avenida Paulista.
Mas quem era -e como era- a
pessoa que deu nome à via?
Ele e outros protagonistas da
sociedade paulistana da segunda metade do século 19 mostram a cara na exposição "Almeida Júnior - Um Criador de Imaginários", atualmente em
cartaz na Pinacoteca do Estado.
Por meio da mostra pode-se conhecer uma galeria de vultos
que dão nome a logradouros da
cidade -retratados pelo pintor.
Almeida Júnior (1850-1899)
é lembrado como pintor acadêmico, mas a mostra procura
ampliar a compreensão da obra
do artista, nascido em Itu (103
km de São Paulo), ao exibir a diversidade de sua produção.
Mesmo os retratos, não são
meramente trabalhos acadêmicos, diz a curadora da exposição, a professora da FAU-USP
(Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP) Maria Cecília França Lourenço.
"O modo como ele retrata a
mulher é um exemplo de seu
caráter inovador. Em geral, ela
nunca era retratada olhando de
frente. Ele muda isso", afirma
ela. "Na tela de Constança de
Arruda Botelho [veja ao lado], o
fundo que retrata o Rio, cidade
natal dela, não é usual."
De acordo com a curadora,
cerca de 40% da produção de
Almeida Júnior é formada por
retratos. "Com certeza, era seu
principal meio de sobrevivência. No entanto, mesmo essa
produção de encomenda anuncia novos procedimentos no
contexto do consumo de arte
daquele período."
Retrato para presente
Explica a curadora: "No fim
do século 19, em São Paulo, era
muito comum as personalidades da sociedade receberem
mimos de presente, como cristais e peças de prata. Com a invejada técnica de Almeida Júnior, o retrato em tela foi incorporado aos agrados. O desejo da
imortalização transparece no grande volume das encomendas de telas".
O pintor não distinguia pedidos de conservadores e republicanos, mas é fato que esses últimos são muito mais abundantes. Ele era próximo de personagens republicanos de Itu,
muitos deles maçônicos, e pintou retratos de vários deles.
Bernardino de Campos, Manoel Ferraz de Campos Sales,
Francisco de Assis Peixoto Gomide e Victorino Carmilo são
alguns dos republicanos agraciados com telas.
A curadora tentou selecionar
trabalhos pouco conhecidos,
presentes em coleções particulares, que dialogassem com o
restante da produção do artista. Diversas obras presentes em
acervos como os do Museu
Paulista e da Santa Casa de Misericórdia ficaram de fora.
"Consegui convencer alguns
colecionadores, mas principalmente no Rio os empréstimos
foram mais difíceis. Muitos temem pela segurança no transporte."
França Lourenço tem convicção de que o pintor utilizava
a fotografia como meio auxiliar
para elaborar os retratos com
mais sofisticação. "Era um procedimento moderno contar
com os daguerreótipos para fazer os quadros. Mas diante de
uma produção tão volumosa e
com tanto apuro plástico, tenho certeza disso."
ALMEIDA JÚNIOR - UM CRIADOR DE IMAGINÁRIOS
Quando: ter. a dom., das 10h às 18h; até 15/4
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3229-9844)
Quanto: R$ 4; sáb., entrada franca
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