São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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Ruas de São Paulo "ressurgem" em telas de mostra

Exposição de Almeida Júnior, em cartaz na Pinacoteca do Estado, traz quadros que mostram figuras proeminentes

Peixoto Gomide e Eusébio Stevaux estão entre os personagens históricos que posaram para o artista, que supera a imagem acadêmica

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Peixoto Gomide é uma rua que corta a avenida Paulista. Mas quem era -e como era- a pessoa que deu nome à via?
Ele e outros protagonistas da sociedade paulistana da segunda metade do século 19 mostram a cara na exposição "Almeida Júnior - Um Criador de Imaginários", atualmente em cartaz na Pinacoteca do Estado.
Por meio da mostra pode-se conhecer uma galeria de vultos que dão nome a logradouros da cidade -retratados pelo pintor.
Almeida Júnior (1850-1899) é lembrado como pintor acadêmico, mas a mostra procura ampliar a compreensão da obra do artista, nascido em Itu (103 km de São Paulo), ao exibir a diversidade de sua produção.
Mesmo os retratos, não são meramente trabalhos acadêmicos, diz a curadora da exposição, a professora da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) Maria Cecília França Lourenço.
"O modo como ele retrata a mulher é um exemplo de seu caráter inovador. Em geral, ela nunca era retratada olhando de frente. Ele muda isso", afirma ela. "Na tela de Constança de Arruda Botelho [veja ao lado], o fundo que retrata o Rio, cidade natal dela, não é usual."
De acordo com a curadora, cerca de 40% da produção de Almeida Júnior é formada por retratos. "Com certeza, era seu principal meio de sobrevivência. No entanto, mesmo essa produção de encomenda anuncia novos procedimentos no contexto do consumo de arte daquele período."

Retrato para presente
Explica a curadora: "No fim do século 19, em São Paulo, era muito comum as personalidades da sociedade receberem mimos de presente, como cristais e peças de prata. Com a invejada técnica de Almeida Júnior, o retrato em tela foi incorporado aos agrados. O desejo da imortalização transparece no grande volume das encomendas de telas".
O pintor não distinguia pedidos de conservadores e republicanos, mas é fato que esses últimos são muito mais abundantes. Ele era próximo de personagens republicanos de Itu, muitos deles maçônicos, e pintou retratos de vários deles.
Bernardino de Campos, Manoel Ferraz de Campos Sales, Francisco de Assis Peixoto Gomide e Victorino Carmilo são alguns dos republicanos agraciados com telas.
A curadora tentou selecionar trabalhos pouco conhecidos, presentes em coleções particulares, que dialogassem com o restante da produção do artista. Diversas obras presentes em acervos como os do Museu Paulista e da Santa Casa de Misericórdia ficaram de fora.
"Consegui convencer alguns colecionadores, mas principalmente no Rio os empréstimos foram mais difíceis. Muitos temem pela segurança no transporte."
França Lourenço tem convicção de que o pintor utilizava a fotografia como meio auxiliar para elaborar os retratos com mais sofisticação. "Era um procedimento moderno contar com os daguerreótipos para fazer os quadros. Mas diante de uma produção tão volumosa e com tanto apuro plástico, tenho certeza disso."


ALMEIDA JÚNIOR - UM CRIADOR DE IMAGINÁRIOS
Quando:
ter. a dom., das 10h às 18h; até 15/4
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3229-9844)
Quanto: R$ 4; sáb., entrada franca


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