São Paulo, quarta-feira, 04 de março de 2009

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CCBB exibe cinema radical de Akerman

Diretora belga radicada na França ganha ciclo em SP com 20 títulos de sua autoria, identificada com o experimentalismo

Cineasta vai participar de encontros em SP e no Rio; pesquisadora da City University de Nova York e Ismail Xavier debaterão obra

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Ela tem 58 anos de idade e 40 de carreira, durante os quais assinou mais de 40 títulos para cinema e TV, entre longas, curtas e episódios de filmes coletivos e séries, mas é quase desconhecida no Brasil. De Chantal Akerman, apenas a comédia romântica "Um Sofá em Nova York" (1996), com Juliette Binoche e William Hurt, teve distribuição comercial no país.
Sua presença sempre foi reduzida por aqui até mesmo em festivais. A Mostra de São Paulo, por exemplo, dela só exibiu "Retrato de uma Garota do Fim dos Anos 60" (1993) e o coletivo "O Estado do Mundo" (2007).
A situação se repete em outros países, com exceção da Bélgica (onde nasceu e estudou) e da França (onde vive). Corpo estranho ao cinema comercial, mas cultuada nos nichos em que circula, sua obra pode agora ser conhecida em conjunto com a mostra "O Cinema de Chantal Akerman", que o CCBB abre hoje.
"Akerman faz um tipo de cinema que não atrai grandes públicos, mesmo na Europa. Um cinema menor, digamos, mas menor no bom sentido", observa a pesquisadora Carla Maia, curadora da retrospectiva.
Representativos das quatro décadas de sua carreira, notável pelo experimentalismo e pela radicalização do conceito de autoria, os 20 títulos da seleção cobrem desde a estreia, com o curta "Saute Ma Ville" (exploda minha cidade), de 1968, até seu mais recente longa solo, "Là-Bas" (lá), de 2006.

Debate
Em cartaz até o próximo dia 22 em São Paulo, a mostra será exibida também pelas unidades do CCBB no Rio, de 10 a 26/3, e em Brasília, de 17 a 29/3. Apenas SP e Rio receberão a visita de Akerman, que deverá chegar ao país na próxima sexta.
Em São Paulo, haverá debate, no dia 21, às 16h30, com a participação dos professores e ensaístas Ismail Xavier, da USP, e Ivone Margulies, da City University de Nova York e autora do livro "Nothing Happens - Chantal Akerman's Hyperrealist Everyday" (nada acontece - o cotidiano hiperrealista de Chantal Akerman), de 1996.
"Desde o começo, Akerman trabalha o tempo, a duração, enquanto matéria-prima de seus filmes", analisa Maia. "A proposta se torna mais radical a cada filme, um abandono cada vez maior da narrativa em função da valorização dessa matéria-prima. Do ponto de vista temático, creio que ela sempre se preocupou com a questão das minorias", completa.
Filha de imigrantes poloneses imigrantes que se refugiaram na Bélgica durante a Segunda Guerra Mundial, Akerman "parece trabalhar uma espécie de sentimento estrangeiro, que envolve se sentir estranho até mesmo em sua própria terra, em sua própria língua".
Para a curadora, seria reducionismo considerá-la "cineasta feminista", rótulo que ganhou nos anos 70. "O compromisso ético de seus filmes foge de qualquer inclinação panfletária, não levanta nenhuma bandeira. Ele surge através da valorização do que o cinema normalmente despreza: o cotidiano, os gestos mínimos, os acontecimentos sem impacto, os rostos anônimos. É um cinema observador, mas que observa os mais invisíveis."


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