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CCBB exibe cinema radical de Akerman
Diretora belga radicada na França ganha ciclo em SP com 20 títulos de sua autoria, identificada com o experimentalismo
Cineasta vai participar de encontros em SP e no Rio; pesquisadora da City University de Nova York e Ismail Xavier debaterão obra
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Ela tem 58 anos de idade e 40
de carreira, durante os quais assinou mais de 40 títulos para cinema e TV, entre longas, curtas
e episódios de filmes coletivos e
séries, mas é quase desconhecida no Brasil. De Chantal Akerman, apenas a comédia romântica "Um Sofá em Nova York"
(1996), com Juliette Binoche e
William Hurt, teve distribuição
comercial no país.
Sua presença sempre foi reduzida por aqui até mesmo em
festivais. A Mostra de São Paulo, por exemplo, dela só exibiu
"Retrato de uma Garota do Fim
dos Anos 60" (1993) e o coletivo
"O Estado do Mundo" (2007).
A situação se repete em outros países, com exceção da
Bélgica (onde nasceu e estudou) e da França (onde vive).
Corpo estranho ao cinema comercial, mas cultuada nos nichos em que circula, sua obra
pode agora ser conhecida em
conjunto com a mostra "O Cinema de Chantal Akerman",
que o CCBB abre hoje.
"Akerman faz um tipo de cinema que não atrai grandes públicos, mesmo na Europa. Um
cinema menor, digamos, mas
menor no bom sentido", observa a pesquisadora Carla Maia,
curadora da retrospectiva.
Representativos das quatro
décadas de sua carreira, notável
pelo experimentalismo e pela
radicalização do conceito de
autoria, os 20 títulos da seleção
cobrem desde a estreia, com o
curta "Saute Ma Ville" (exploda
minha cidade), de 1968, até seu
mais recente longa solo, "Là-Bas" (lá), de 2006.
Debate
Em cartaz até o próximo dia
22 em São Paulo, a mostra será
exibida também pelas unidades
do CCBB no Rio, de 10 a 26/3, e
em Brasília, de 17 a 29/3. Apenas SP e Rio receberão a visita
de Akerman, que deverá chegar
ao país na próxima sexta.
Em São Paulo, haverá debate,
no dia 21, às 16h30, com a participação dos professores e ensaístas Ismail Xavier, da USP, e
Ivone Margulies, da City University de Nova York e autora
do livro "Nothing Happens -
Chantal Akerman's Hyperrealist Everyday" (nada acontece -
o cotidiano hiperrealista de
Chantal Akerman), de 1996.
"Desde o começo, Akerman
trabalha o tempo, a duração,
enquanto matéria-prima de
seus filmes", analisa Maia. "A
proposta se torna mais radical a
cada filme, um abandono cada
vez maior da narrativa em função da valorização dessa matéria-prima. Do ponto de vista temático, creio que ela sempre se preocupou com a questão das
minorias", completa.
Filha de imigrantes poloneses imigrantes que se refugiaram na Bélgica durante a Segunda Guerra Mundial, Akerman "parece trabalhar uma espécie de sentimento estrangeiro, que envolve se sentir estranho até mesmo em sua própria
terra, em sua própria língua".
Para a curadora, seria reducionismo considerá-la "cineasta feminista", rótulo que ganhou nos anos 70. "O compromisso ético de seus filmes foge
de qualquer inclinação panfletária, não levanta nenhuma
bandeira. Ele surge através da
valorização do que o cinema
normalmente despreza: o cotidiano, os gestos mínimos, os
acontecimentos sem impacto,
os rostos anônimos. É um cinema observador, mas que observa os mais invisíveis."
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