São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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Crítica/"Sede de Sangue"

Diretor faz vampiro à moda sul-coreana

Divulgação
Kim Ok-bin e Song Kang-ho, o casal de "Sede de Sangue"

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Não existe hoje no mundo um cinema mais despudorado do que o sul-coreano. Uma parcela considerável da produção do país asiático consiste em filmes sem qualquer vergonha do absurdo e do extremo. Diretores como Bong Joon-ho ("O Hospedeiro") e Park Chan-wook ("Oldboy") parecem ter uma missão muito definida: pegar um subgênero hollywoodiano, geralmente ligado ao suspense ou ao terror, e ver até onde conseguem estender seus limites.
No caso de "Sede de Sangue", o novo de Chan-wook, o subgênero em questão é o filme de vampiro. A abordagem do cineasta sul-coreano é tão radical que, na comparação, sucessos recentes de público (a série americana "Crepúsculo") e de crítica (o sueco "Deixa Ela Entrar") sobre esse velho universo parecem coisa de criança.
A trama é insana. Na África, um padre sul-coreano (Song Kang-ho) deixa-se ser infectado por um vírus letal nos testes de uma vacina e vira o único sobrevivente entre 500 pessoas testadas. Mas há efeitos colaterais: ele se transforma não apenas em um ser milagroso, como também em um vampiro.
Depois de curar o câncer de um antigo conhecido de infância em sua volta à Coréia do Sul, ele se apaixona pela mulher deste (Kim Ok-bin) e a transforma em uma vampira; juntos, os dois entram em um longo frenesi de sexo e violência.
Quando se imagina que não há mais voltas a serem dadas na narrativa, Chan-wook a vira mais uma vez para um lado totalmente inesperado, perde e reencontra o rumo. Se o espectador acredita que um movimento de câmera não poderia ser ao mesmo tempo tão preciso e excessivo, percebe que basta esperar pelo seguinte.
Chan-wook provavelmente queria dizer alguma coisa importante sobre pecado, culpa, milagre e redenção no catolicismo coreano.
Mas o realmente interessante de "Sede de Sangue" é a soma de liberdade narrativa e maestria visual. É como assistir ao espetáculo de um vidro sendo submetido a fogo e, depois, retorcido até quase o ponto de se romper. E, ao cabo, vê-lo assumir uma forma estranha, rebuscada, fascinante.


Avaliação: ótimo



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