PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Nada de investimentos milionários ou de espetáculos de dispendiosa produção. O espaço teatral que a cidade ganha a partir de hoje é de outra natureza.
Um albergue no bairro paulistano do Canindé, sem abandonar as funções originais, passa a abrigar uma programação de peças, inaugurada com "Auto da Paixão: 12 Cânticos de Amor e Morte", de Romero de Andrade Lima. A iniciativa é da Cia. São Jorge de Variedades ("Biedermann e os Incendiários", "Um Credor na Fazenda Nacional").
No lugar, o grupo tem realizado desde dezembro do ano passado os ensaios de sua nova criação, "Bastianas", baseada nos contos da primeira parte do livro "Macaúba da Terra", do ator Gero Camilo. A obra mostra o universo de uma aldeia sertaneja e sua "cosmogonia individual", segundo o diretor, Luís Mármora, 33.
A montagem, com elenco formado só por mulheres, começou a ser concebida no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, há um ano e meio, antes de abandonar o edifício para tomar as nuanças atuais.
Tais procedimentos de cunho social têm animado outros conjuntos de diferentes maneiras ultimamente -caso do Oficina Uzyna Uzona, por exemplo, que integrou crianças do projeto Bixigão, que visa dar formação cultural aos moradores da Bela Vista, ao elenco de "Os Sertões".
Praticando suas improvisações e performances em meio aos usuários do albergue Núcleo Cidadania, a São Jorge pretende estrear a peça no próximo semestre, após as trocas com a comunidade local. "Aqui, sempre participam muito, qualquer conflito do texto recebe intervenção, sugestões. As crianças interagem bastante. Certa vez, numa passagem que tratava de simpatias, as pessoas comentaram as suas. Isso vai ajudando a compor a cara do espetáculo", diz Mármora.
Os encontros acontecem três vezes por semana, à tarde. Na segunda-feira, a companhia realiza sua pesquisa em outro espaço, o Abrigo Boracea, com abertura prevista para junho, no qual "Bastianas" deve realizar sua temporada, após o término do processo iniciado no Canindé.
Hoje, a apresentação de "Auto da Paixão", a primeira encenação com a qual muitos dos albergados terão contato na vida, será aberta a uma platéia externa de no máximo cem pessoas.
No dia 17/5, retorna ao projeto, batizado de "Teatro no Canindé", mais um pedaço de programação teatral. Trata-se de três trabalhos do ônibus-teatro do grupo As Graças, encenados na rua. "A intenção é fazer ao menos uma peça por mês", diz Luís Mármora.