FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ele ainda não se sente à vontade no papel. Mas o cineasta Carlos Reichenbach, mais conhecido pelos alunos e amigos como "Carlão", gaúcho criado em São Paulo, começa a assumir o papel de agitador cultural.
Sua principal idéia era reunir um bando de amigos e assistir a um filme cult, trocando uma sessão de vídeo em casa por uma boa projeção em uma espaçosa sala de cinema. Lançado há um mês, o Cineclube Comodoro deu tão certo que lotou a sala do Cinesesc (de 329 lugares). E muita gente ainda voltou para casa sem ingresso.
Hoje à noite, Carlão exibe "Incubus" (1965), filme de terror americano estrelado por William Shatner (o capitão Kirk de "Jornada nas Estrelas") que durante anos foi dado como desaparecido, até uma cópia ser encontrada em 1998, na Cinemateca Francesa, e restaurada digitalmente. A maior curiosidade é que "Incubus" é um dos únicos sete filmes do mundo rodados em esperanto (!).
Na seqüência, o terror japonês "Audition" (2000), considerado a obra-prima do diretor Takashi Miike, prolífico diretor (com 60 filmes em 13 anos de carreira).
Baseado em uma história de Ryu Murakami, "Audition" narra a busca de um viúvo quarentão por uma nova mulher, Para isso, ele monta uma seleção fictícia de jovens candidatas a um papel em uma série de TV.
O drama psicológico logo se transforma em uma sucessão de torturas físicas, manifestação de um desregramento que fez a fama do cinema de Miike, obcecado pelas rupturas de gêneros no interior de um mesmo filme.

Blog cinéfilo
É o primeiro cineclube criado a partir de um blog. Há três meses, Reichenbach criou um endereço na internet (http://doiscorregos.blog.uol.com.br) para discutir cinema com outros aficionados. "Percebi que boa parte do público que freqüentava o site nunca teve acesso aos filmes que estavam sendo debatidos", conta. Concretizou a idéia em abril depois de uma conversa com o gerente do Cinesesc, Luiz Zakir, no último Festival do Recife.
Reichenbach diz que o Comodoro está aberto a todo tipo de filme, mas não esconde sua preferência por filmes fantásticos e de terror. Para a terceira sessão, em setembro, já programou "Profondo Rosso" (1975), maior obra do italiano Dario Argento. Sua intenção, aliás, é dar espaço a todos os cineastas italianos que fizeram a glória do cinema B de terror nos anos 60 e 70: Mario Bava, Riccardo Freda, Fernando Di Leo, "o Samuel Fuller italiano".
Segunda idéia: recuperar filmes que fizeram grande sucesso na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas não estrearam comercialmente, como "O Quarto Homem" (1983), último filme dirigido na Holanda por Paul Verhoeven ("Robocop", "Instinto Selvagem"); e "Convite à Viagem" (1982), produção franco-ítalo-alemã de Peter Del Monte.
Com o cineasta Eugênio Puppo, produz uma mostra de filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues. E ainda insiste em um antigo projeto de criar o Festival de Cinema Extremo, trazendo anualmente ao Brasil alguns cineastas que trabalhem com o que ele chama de "formas anticonvencionais" do cinema.
Reichenbach agora está atrás de outro filme de Dario Argento para exibir no mesmo espaço, aproveitando o lançamento do livro "Ponto de Fuga", de Jorge Coli, colunista da Folha e especialista em Argento. Ah, e ainda se prepara para a estréia de seu filme, "Garotas do ABC", no dia 27.
(THIAGO STIVALETTI)