São Paulo, Quarta-feira, 04 de Agosto de 1999
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MÚSICA ERUDITA
Soprano italiana vai interpretar árias de Puccini, Cilea, Massenet e Tchaikovski, hoje, às 21h
Mirella Freni canta no Municipal

Divulgação
A soprano italiana Mirella Freni, que se apresenta hoje e sexta-feira no Teatro Municipal


JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

A soprano italiana Mirella Freni, 64, apresenta-se hoje e sexta no Teatro Municipal de São Paulo, com a Orquestra Sinfônica Municipal dirigida por Stefano Ranzani. No concerto, a soprano interpretará árias de Puccini, Cilea, Massenet e Tchaikovski.
Freni é uma das raras unanimidades entre as sopranos pós-Callas. Sua ampla discografia demonstra um jeito leve de impostar a voz, um fraseado perfeito e um maravilhoso timbre.
Suas duas récitas em São Paulo ocorrem dentro da programação dos Patronos do Teatro Municipal. Leia trechos de sua entrevista.

Folha - A sra. cantará hoje "Mi Chiamano Mimi", de "La Bohème", de Puccini. Qual a sensação de ter a carreira marcada por esse papel?
Mirella Freni -
Mimi me deu uma ampla notoriedade. Foi relativamente casual. Em 1963, eu a interpretei no La Scala, com a direção musical de Karajan e a direção cênica de Zeffirelli. O sucesso abriu as portas para convites nas principais cenas líricas do mundo. É um dos "favores" que devo à memória de Puccini.

Folha - De que maneira o papel interpretado e a técnica vocal se misturam em seu estilo?
Freni -
As duas coisas estão intimamente ligadas. Não se pode só cantar ou só interpretar.

Folha - Mas a sra. não canta Desdêmona, em "Otello" (Verdi), como o faz com Micaela, em "Carmen" (Bizet).
Freni -
Cada personagem possui seu próprio conjunto de registros que é preciso identificar corretamente. Estudar um papel é sempre um momento bastante agradável para mim.

Folha - E quando o maestro não está de acordo com sua concepção?
Freni -
Os maestros também têm uma grande sensibilidade, mas quanto ao conjunto. É sempre possível discutir as discordâncias para chegar a uma concepção comum do personagem.

Folha - Mesmo depois de sua longa carreira, a sra. ainda acredita estar aprendendo algo?
Freni -
Sem dúvida alguma. Há em mim uma predisposição constante em fazer coisas novas, em colocar em dúvida minhas antigas certezas.

Folha - A sra. passou a interpretar papéis da ópera russa apenas tardiamente, não é?
Freni -
Há 15 anos que eu o faço. Procurei entender o que havia por detrás desse repertório. Dei esse passo levando em conta a maturidade que minha carreira havia atingido.

Folha - A seu ver, uma cantora lírica deve se relacionar com outros campos da cultura?
Freni -
Claro que sim. Deve ler bastante, sem a pretensão de se tornar um especialista em literatura, por exemplo.

Folha - Que tipo de livro a sra. gosta de ler?
Freni -
Meu gosto em literatura é variado. Mas tenho a mania de não deixar um romance pela metade. Assim, quando estou trabalhando, concentro-me bem mais no canto. E, para me distrair, em lugar de ler, eu acabo fazendo palavras cruzadas...

Folha - Como foi sua passagem, nos anos 70, para papéis que exigiam voz mais pesada, como o de Aída?
Freni -
De certo modo, todos os papéis são pesados para mim. Mas essa passagem foi uma consequência natural da maturação de minha voz.

Folha - Ter chegado à idade madura em plena atividade é algo positivo ou penoso?
Freni -
É positivo. Agradeço diariamente por estar ainda cantando. A idade me faz portadora de uma quantidade muito grande de boas recordações.

Folha - Digamos que daqui a alguns minutos a sra. recebesse a notícia de que o mundo iria acabar. Qual a última música que gostaria de ouvir?
Freni -
Se isso acontecesse, eu decidiria na hora. É impossível responder honestamente.





Concerto: Mirella Freni (soprano), com a Orquestra Sinfônica Municipal, dirigida por Stefano Ranzani
Quando: hoje e sexta, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/n, tel. 222-8698)
Quanto: de R$ 15 a R$ 95
Produção: Patronos do Theatro Municipal
Patrocinador: Banco Real



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