São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2006

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Crítica/teatro/"Toda Nudez Será Castigada"

Atores enfrentam bem Nelson Rodrigues

CRÍTICO DA FOLHA

Ponto alto este ano do importante FILO (Festival de Teatro de Londrina), "Toda Nudez Será Castigada" se impôs como a melhor montagem do Armazém Companhia de Teatro.
Não é pouco. Radicado desde 1998 no Rio de Janeiro, o grupo do diretor Paulo de Moraes já rendeu montagens inesquecíveis, como o "Alice", fábula psicodélica e interativa adaptada de Lewis Carrol, e o recente "A Caminho de Casa", reflexão vital sobre o terrorismo. Depois de 13 anos de dramaturgia própria, na qual celebravam "o encontro com o inesperado", enfrentam agora um texto difícil do unânime Nelson Rodrigues.
Não cedem ao consagrado: acrescentam a ele. Mais, talvez, que em outras peças de Nelson Rodrigues, a mistura da paródia e do melodrama, do grotesco e do sublime de "Toda a Nudez" desnorteia tanto os que por excesso de zelo descartam qualquer humor como os que querem apenas rir às custas do patético caso entre o puritano Herculano e a prostituta Geni.

Limbo da infância
Moraes situa a trama em um universo paralelo, alucinante, talvez o limbo da infância dos personagens. Livre de qualquer compromisso naturalista, brilha mais do que nunca a grande competência do grupo em relação ao espaço cênico. Portas giratórias deixam entrar personagens como lufadas de vento, uma luz ágil e múltipla dinamiza ao máximo a veloz carpintaria rodrigueana, e a preparação corporal desenha cada personagem como peça de xadrez.
O ponto fraco do grupo, uma tendência a "cantar" um pouco o texto, é superado pela estratégia de cantá-lo realmente em certos trechos, assumindo a ópera suburbana que caracteriza o autor. E quando à brilhante trilha sonora se acrescenta uma música inédita de Arrigo Barnabé, culminando a cena na qual Geni traça em sangue as palavras de Nelson Rodrigues em seu corpo, a convicção de estar presenciando um momento chave do teatro brasileiro é irresistível. (SSC)

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA     
Quando: estréia hoje, às 21h. De qua. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 12/11
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3383-3402)
Quanto: R$ 12


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