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Crítica/teatro/"Toda Nudez Será Castigada"
Atores enfrentam bem Nelson Rodrigues
CRÍTICO DA FOLHA
Ponto alto este ano do
importante FILO (Festival de Teatro de Londrina), "Toda Nudez Será Castigada" se impôs como a melhor montagem do Armazém
Companhia de Teatro.
Não é pouco. Radicado desde
1998 no Rio de Janeiro, o grupo
do diretor Paulo de Moraes já
rendeu montagens inesquecíveis, como o "Alice", fábula psicodélica e interativa adaptada
de Lewis Carrol, e o recente "A
Caminho de Casa", reflexão vital sobre o terrorismo. Depois
de 13 anos de dramaturgia própria, na qual celebravam "o encontro com o inesperado", enfrentam agora um texto difícil
do unânime Nelson Rodrigues.
Não cedem ao consagrado:
acrescentam a ele. Mais, talvez,
que em outras peças de Nelson
Rodrigues, a mistura da paródia e do melodrama, do grotesco e do sublime de "Toda a Nudez" desnorteia tanto os que
por excesso de zelo descartam
qualquer humor como os que
querem apenas rir às custas do
patético caso entre o puritano
Herculano e a prostituta Geni.
Limbo da infância
Moraes situa a trama em um
universo paralelo, alucinante,
talvez o limbo da infância dos
personagens. Livre de qualquer
compromisso naturalista, brilha mais do que nunca a grande
competência do grupo em relação ao espaço cênico. Portas giratórias deixam entrar personagens como lufadas de vento,
uma luz ágil e múltipla dinamiza ao máximo a veloz carpintaria rodrigueana, e a preparação
corporal desenha cada personagem como peça de xadrez.
O ponto fraco do grupo, uma
tendência a "cantar" um pouco
o texto, é superado pela estratégia de cantá-lo realmente em
certos trechos, assumindo a
ópera suburbana que caracteriza o autor. E quando à brilhante
trilha sonora se acrescenta
uma música inédita de Arrigo
Barnabé, culminando a cena na
qual Geni traça em sangue as
palavras de Nelson Rodrigues
em seu corpo, a convicção de
estar presenciando um momento chave do teatro brasileiro é irresistível.
(SSC)
TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA
Quando: estréia hoje, às 21h. De qua. a
sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 12/11
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 3383-3402)
Quanto: R$ 12
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