São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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Diretor faz defesa de geração em "Podecrer!"

Cineasta Arthur Fontes, 44, revisita década de 80 em "filme de turma'

Diretor diz que a "primeira geração despolitizada" é também a que promoveu "um renascimento cultural, junto da abertura política"

Divulgação
Maria Flor, Liliana Castro e Fernanda Paes Leme integram o núcleo feminino de "Podecrer', de Arthur Fontes ("Surf Adventures')


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 20 anos de carreira no cinema, Arthur Fontes, 44, lançou na última sexta seu primeiro longa de ficção, "Podecrer!".
No filme, há um personagem de cujo destino o diretor escapou por pouco. "Havia uma ameaça de Tavico (Marcelo Adnet) em mim", graceja Fontes.
Tavico é o jovem estudante da zona sul carioca que se define como um "merda pobre de visão". Na prática, é o sujeito da classe média que ambiciona chegar ao andar de cima da pirâmide sócio-econômica.
Por um futuro estável e endinheirado, Tavico deixa de lado as tardes de surfe com os amigos e a banda de rock colegial (com seus ensaios pouco organizados e suas letras em português), em nome de um lugar ao sol no mercado financeiro. Em suma, abre mão do ideal de ganhar a vida como artista.
Fontes, por sua vez, abriu mão do diploma de administrador de empresas e do emprego numa exportadora para trabalhar em cinema, aos 24 anos.
"Eu estava infeliz e o [ex-colega de escola e amigo] João Moreira Salles me chamou para fazer um documentário com ele", conta Fontes.
Depois da série "China - O Império do Centro" (1987), exibida na TV, Salles e Fontes retomaram a parceria em diversos documentários com os quais ambos aprenderam "o be-a-bá do cinema", diz Fontes.
Capturado pela sétima arte, ele fundou, com um grupo de sócios, a produtora Conspiração. Era 1991, ano em que o presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) extinguiu a Embrafilme. A produção de longas caiu a quase zero.
O nome da produtora traduzia, segundo Fontes, a reação dos diretores ao ato de Collor e seu empenho em "conspirar contra a idéia de que não podíamos fazer filmes no Brasil".
Antes de "Podecrer!", Fontes dirigiu clipes, curtas, documentários e episódios da série "Mandrake" (HBO), que considera "a melhor coisa que a Conspiração já fez".
Durante esse tempo, amadureceu a idéia de que queria estrear em longas de ficção com um filme "leve e despretensioso". O que ele chama de pretensão no cinema é "o cineasta que vai além do que pede o tema, o que fica se lambendo".
Com seu primeiro filme, Fontes diz que queria também e sobretudo contar uma história próxima da sua. Encontrou-a no livro de Marcelo Dantas no qual o filme se baseia. "Podecrer!" é ambientado em 1981.
"É a primeira geração despolitizada, desengajada. A ditadura tinha acabado. Morreu podre, fedendo. Vamos brigar contra quem agora?", analisa.
No aspecto da "desilusão política", Fontes vê um paralelo da "juventude de hoje" com a sua, mas ressalta que, nos 80, "floresceu um renascimento cultural, junto com a abertura política", que deixou um lastro subestimado, na opinião dele.
"Tudo bem que o [Hélio] Oiticica é um gênio, o penetrável é incrível. Mas o que se faz hoje é mais parecido com o que se fez em 1981", diz. Para Fontes, "houve uma coisa ali que as pessoas ainda não digeriram" e que "Podecrer!" se propõe a destacar. "Faço a defesa da minha geração e quis fazer um filme nesse sentido", afirma.


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