São Paulo, terça-feira, 05 de maio de 2009

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Crítica/cinema/"Atrizes"

Valeria Bruni encena crise de quarentona em filme leve

Também diretora e corroteirista, ela interpreta uma atriz solitária

Divulgação
Valeria Bruni e Louis Garrel em cena de 'Atrizes'

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Em seu segundo trabalho como diretora, a atriz Valeria Bruni Tedeschi, nascida na Itália, mas que se tornou conhecida em inúmeros trabalhos em filmes franceses, comprova que seu talento não se limita aos papéis diante da câmera. Ela dirige, corroteiriza e protagoniza "Atrizes" e mesmo com o acúmulo de funções -uma prova a mais de suas qualidades- consegue impedir que o filme se converta naquelas chatíssimas "egotrips" de que costuma ser pródigo o cinema francês.
"Atrizes" poderia ser um filme de Woody Allen, com seu retrato em modo de farsa das neuroses de uma mulher que chega ao 40 anos solitária, carente e perto do fim da possibilidade natural de se tornar mãe, envolvida em situações dramáticas que terminam virando para o cômico e incapaz de conseguir diferenciar fato de ficção, distinguir o vivido do imaginado. Dessa maneira, Marcelline aparece como uma atriz que perdeu o ponto.
Ela ensaia para "Um Mês no Campo", peça de Ivan Turgueniev, imersa numa trupe também confusa sobre seus papéis, situação que o filme explora para acentuar a perda de limites entre vida e representação.
No palco e na dimensão pessoal, Marcelline mistura progressivamente os planos num curto-circuito em que o "viver a vida" e o "representar" se remetem incessantemente, confundindo-se e alimentando-se.
Encontra nos bastidores do teatro com a Anna Petrovna, cuja figura encarna no palco.
Numa sucessão de projeções e duplicidades dramáticas, escala para o papel da mãe de Marcelline a atriz Marisa Borini, mãe de Valeria Bruni Tedeschi na realidade, e coloca o namorado Louis Garrel como intérprete de um jovem ator por quem a personagem que interpreta no palco se apaixona.

Exercício
Essa diluição de fronteiras entre teatro e existência poderia parecer um reaproveitamento de um tipo de jogo frequente, por exemplo, nos filmes do francês Jacques Rivette, mas a ambição da diretora-atriz é outra e mais modesta. Seu filme não vem sobrecarregado do rigor intelectualista do cinema autoral de Rivette, e o que Tedeschi busca é apenas fazer um exercício de interpretação, no sentido de atuação.
Para isso ela, apesar de estar bastante presente em cena, também compartilha o espaço com uma penca de amigos e ótimos atores, companheiros de geração, como Noémie Lvovsky, Mathieu Amalric, Louis Garrel e Valeria Golino, e referências mais maduras, como Maurice Garrel e Marie Rivière. No meio deles, a diretora-atriz realiza um trabalho leve e desenvolto, como um peixe dentro d'água.
Avaliação: bom


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