São Paulo, Quarta-feira, 05 de Maio de 1999
Próximo Texto | Índice

SHOW
Seaweed toca sua resistência ao mercado

LEANDRO FORTINO
da Redação

O quinteto Seaweed, um dos poucos sobreviventes do punk rock underground de Seattle -popularmente conhecido como grunge-, está no Brasil com a turnê do seu mais mais novo álbum, "Actions and Indications".
O show chega hoje ao já consagrado reduto das bandas independentes que vêm a São Paulo, a Broadway, depois de passar por Santos, Vitória, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Bernardo do Campo, onde a banda iniciou a turnê no Planeta Rock (leia crítica ao lado).
O grupo é um verdadeiro sobrevivente, pois a indústria fonográfica norte-americana conseguiu, num piscar de olhos, derrubar qualquer resistência que o rock independente pudesse levantar.
As novas bandas passaram a deixar de lado a vontade de tocar o que gostam para satisfazer os desejos mercadológicos das grandes gravadoras, apresentando músicas que conseguissem repetir o êxito das de bandas como Nirvana, Mudhoney e Pearl Jam.
Com o Seaweed, essa história quase se repetiu. Natural de Tacoma, a 40 minutos de Seattle (Estado de Washington), o grupo entrou em evidência depois de assinar com o selo Sub Pop, pelo qual já passaram Nirvana e Mudhoney.
Com a explosão do grunge, logo a banda foi convocada pela Hollywood Records (gravadora pertencente ao grupo Disney) para lançar, em 95, "Spanaway", o sexto álbum, depois de quatro lançamentos pelo Sub Pop e um pelo Tupelo.
"Quando a cena underground de Seattle se tornou popular, as grandes gravadoras olhavam para a ela e diziam: "Nós podemos tirar dinheiro disso". Então, elas ganharam dinheiro com algumas poucas bandas e enfiaram o máximo possível nas orelhas das pessoas até ninguém conseguir mais ouvir", explica Wade Neal, vocalista e guitarrista do Seaweed.
Para Neal, o contrato com a Hollywood foi um reflexo direto da situação. "Fomos contratados para ser o "novo" Mudhoney ou Soundgarden. Mas nós não esperávamos isso. Nunca nos imaginávamos uma banda pop, com hits pop. Nós acabamos não produzindo aquilo que eles queriam."
As exigências para mudar o som do Seaweed foram tantas que nenhum dos lados conseguiu suportar, e a banda foi dispensada.
"No final, acho que vencemos, pois deixamos a gravadora e fomos parar em um selo independente no qual ninguém exigiu nada. A propósito, boa parte das músicas de "Actions and Indications" deveria integrar o segundo CD pela Hollywood, que não saiu. A maioria das músicas era inaceitável para os padrões de uma grande gravadora, quaisquer que sejam eles."
O balanço que o guitarrista faz, no final das contas, é um arrependimento do ponto de vista artístico. "Foi bom por um lado: ganhamos muito bem por um bom tempo. Mas as pessoas com quem tratávamos não nos aceitavam do jeito que éramos. Depois do Nirvana, eles exploraram tanto o underground que ele foi absorvido pelo mainstream."
A turnê pelo Brasil marca os dez anos de estrada do grupo. Mas a data não parece estimular um show comemorativo, como seria de esperar. "Não sei se faremos algo diferente. Sei que não teremos um bolo ou outra coisa assim. Tentaremos tocar um pouco de cada disco que lançamos, mas o repertório será em cima do novo CD."

Show: Seaweed Abertura: Garage Fuzz Quando: hoje, a partir de 22h Onde: Broadway (av. Marquês de São Vicente, 1.767, Barra Funda, tel. 861-3368) Quanto: R$ 20


Próximo Texto: CD da banda absorve o pop
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.