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TEATRO/"CHICAGO"
Montagem em cartaz no teatro Abril foi apresentada em Nova York nos anos 70 por Bob Fosse
Simulacro da Broadway é menos do mesmo
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Depois de passar por Hong
Kong e Cingapura, "Chicago" finalmente chega a São Paulo
para provar que a cidade tem artistas e produção de nível internacional. O teatro Abril, depois do
promissor "Os Miseráveis" e do
raso "A Bela e a Fera", tem aqui
um desafio maior. Afinal, a brechtiana ironia de Bob Fosse (1927-87) fazia em 1975 uma saudável
provocação à máquina de fama
do showbiz da Broadway, com a
fábula de Roxie Hart, a assassina
que usa na prisão a atenção da mídia a seu processo para se lançar
enquanto atriz.
Quase 30 anos depois, empalideceu bastante a ironia. A coreografia desta versão, "ao estilo Bob
Fosse", "recriada" para o Brasil
por Gary Chryst, chega mesmo a
lembrar Bob Fosse às vezes, com
dançarinos que têm pequenas
brechas para mostrar sua competência de ginastas e aptos a falar
textos curtos com desenvoltura,
apesar da entonação e do ritmo
serem tão rigidamente pré-moldados.
Mas para isso não é preciso ser
ator: basta um treino com Wolf
Maya. Bem diferente é o desafio
de Adriana Garambone, que tem
que conciliar canto, dança e interpretação sem demonstrar esforço, para dar conta da carismática
Roxie. Sai-se bastante bem, merecendo atenções futuras, assim que
sair da prisão de "Chicago".
Daniel Boaventura está confortável como o simpático canastrão
Billy Flynn, o advogado corrupto,
como estava confortável no Gaston de "A Bela e a Fera". Selma
Reis sofre mais para adaptar sua
elegância à vulgar carcereira Mama Morton, que uma tradução ao
pé da letra torna mais constrangedora ("pode apostar sua bunda
nisso"), e parece optar por simplesmente cantar bem.
Quem rouba o foco, ironicamente no papel do "invisível" e
conformado marido traído Amos
Hart, é Jonathas Joba, que sabe jogar com seus limites de dançarino
e sua inteligência de ator para cair
nas graças do público.
De modo inverso, Danielle Winits, a estrela por quem o público
vem, faz a veterana atriz-presidiária Velma Kelly de modo pouco
mais do que amador, apesar da
partitura facilitada. Se houve um
teste tão rígido como se alardeia e
Winits passou nesse teste, há nele
algum critério mal explicado.
Apenas a orquestra regida por
Miguel Briamonte preenche completamente as expectativas. Com
profissionalismo e prazer e sem
ter nenhuma das "saídas triunfais" do elenco, mantém-se humildemente tocando enquanto o
público sai. A comparação com o
Titanic é inevitável.
É desalentador que, em uma cidade em que a criação teatral tem
de depender de investimentos
constrangedores e fugidios, milhões sejam aplicados para que
uma platéia de elite possa ter menos do mesmo, em um simulacro
de requentados sucessos da
Broadway. Como diz Roxie, isso é
showbiz, gente.
Chicago
Letra e música: Fred Ebb e John Kander
Direção: Scott Faris
Coreografia: Gary Chryst
Com: Danielle Winits, Adriana
Garambone, Daniel Boaventura, Selma
Reis, Jonathas Joba e outros
Onde: teatro Abril (av. Brigadeiro Luís
Antônio, 411, Bela Vista, região central,
tel. 6846-6060)
Quando: quinta e sexta, às 21h; sábado,
às 18h e às 22h; e domingo, às 18h; até
dezembro
Quanto: de R$ 55 a R$ 135
Patrocinadores: Credicard,
Volkswagen, Embratel, Alcoa
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