|
Texto Anterior | Índice
FOTOGRAFIA
Nos trabalhos exibidos na exposição "Olhares Cruzados", paulista e alemã fotografaram as duas capitais
Imagens aglutinam muros de Berlim e de SP
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
O fotógrafo paulista Cristiano
Mascaro cruzou o oceano para fotografar Berlim. O caminho inverso foi feito pela fotógrafa berlinense Sibylle Bergemann. O resultado é a exposição "Olhares
Cruzados", na qual similaridades
possíveis e muitas diferenças entre as duas cidades podem ser vistas a partir de hoje na Pinacoteca
do Estado em São Paulo.
O cruzamento de olhares se deu
também na prosa. O escritor e colunista da Folha Fernando Bonassi escreve sobre o bairro berlinense de Mitte, comparando-o com o
Brás. E o escritor da cidade alemã
Carsten Probst descreve seus espantos durante suas andanças pela capital paulista:
"Um grande terreno fétido e
abandonado, no meio de São
Paulo, que se chama parque Dom
Pedro 2º, rodeado de vias expressas e ruas de intenso trânsito: esse
deve ser o lugar onde a cidade cai
em si, onde é possível esclarecer
relações e conceitos. Esse é o lugar
ao qual talvez se chegue obrigatoriamente seguindo por esse caminho, para ficar aos pés da colina
do comando dos grandes bancos
e ao lado da catedral que imita a
de Colônia. Para daí olhar para a
memória vazia da cidade".
As imagens de Bergemann se
debatem entre descortinar o exótico dos trópicos, como os cachorros que acompanham os catadores de papel, a rua das noivas e a
nossa arquitetura da destruição,
mas em alguns momentos tenta
encontrar algo de Berlim por aqui
e flagra cenas de um solitário homem andando sobre o minhocão,
com a tristeza de algumas poucas
árvores represadas entre enormes
edifícios.
Os solitários que Mascaro flagrou em Berlim aparecem hora
num café, com o olhar perdido,
hora na plataforma da estação de
metrô, mostrando que a solidão e
uma certa postura de triste melancolia são as resultantes de
qualquer habitante das grandes
metrópoles.
Mas é a arquitetura secular de
Berlim que cria o abismo mais
aparente entre as 40 imagens de
Mascaro e o mesmo número de
imagens de Bergemann, todas em
preto-e-branco.
Numa das comparações entre
as cidades, Bonassi resume a história: "(Aqui) Há um muro invisível separando miseráveis de um
lado e uma elite suicida de outro/
(lá) o muro desapareceu, mas
seus pedaços podem ser comprados a 50 euros, como souvenir".
OLHARES CRUZADOS. Onde:
Pinacoteca do Estado de São Paulo (pça.
da Luz, 2, região central, tel. 229-9844).
Quando: abertura hoje, das 11h às 15h;
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 31 de
agosto. Quanto: R$ 4 (entrada franca aos
sábados).
Texto Anterior: Erudito/crítica: Chopin para reparar nossa desgraça Índice
|