São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Crítica/"Hancock"

Herói anticonvencional é inimigo de si mesmo em filme sem nenhuma tensão

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"H ancock" é uma dessas idéias que todo mundo já teve, mas abandonou, percebendo que não daria em nada. Alguém resolveu, porém, tocar adiante, e fez de Will Smith o super-herói anticonvencional: negro, relaxado e anti-social.
Ele tem superpoderes cuja origem ignora, mas os utiliza de forma atrapalhada, e a população de Los Angeles, em vez de ficar grata, tem uma bronca tremenda do sujeito.
Estamos nisso -e já na introdução percebe-se que nesse pé a coisa não irá longe- quando entra em cena o publicitário (ou relações públicas) Ray Embrey, cheio de boas intenções, cujos esforços para convencer os empresários a ajudá-lo a salvar o planeta não dão em nada.
Ray adota Hancock para transformá-lo num bom cidadão, o que consiste em desde ensinar-lhe coisas elementares (bons modos no trato com as pessoas normais, aterrissagem sem causar grandes danos etc.) até convencê-lo a cumprir os vários anos de pena a que foi condenado (na verdade, ele sabe que logo a cidade sentirá a ausência de Hancock: sem ele por perto o crime viceja).
Em poucas palavras, o único inimigo de peso de Hancock é o próprio Hancock. O que significa que estamos diante de um filme sem nenhuma tensão e interesse em que, milagrosamente, os produtores conseguiram engajar atores de nome, como Smith e Charlize Theron.
Charlize ainda não entrou na história, e melhor seria que não o fizesse. Ela é Mary, mulher de Ray. Uma dona-de-casa bem classe média, que não gosta nada de ver o marido andando por aí com aquele sujeito.
Cria-se uma certa tensão entre ela e Hancock, já que a repulsa da mulher esconde certa atração sexual. Para que serve isso? Para nada, exceto para zelosos censores, eventualmente, proibirem (ou "desaconselharem", conforme o eufemismo em uso) o filme para crianças, quando a única esperança de "Hancock" é conseguir alguma empatia com o público infantil. Acima de dez anos é quase impossível alguém se abalar por esse filme que desenvolve a tão convencional idéia do herói anticonvencional.

Avaliação: ruim

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