São Paulo, sábado, 05 de setembro de 2009

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Crítica/show

Orquestra Imperial e convidados exploram as facetas de Gainsbourg

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vestindo um All Star, uma calça jeans desbotada e uma regata branca, Jane Birkin voltou ao palco sozinha. E, sem nenhum instrumento soando para dar apoio a sua voz frágil, cantou o clássico "La Javanaise".
Delicadíssimo, o número encerrava com um fio de som -e o silêncio atento da plateia do Sesc Pinheiros- o primeiro dos dois shows que ela, Caetano Veloso, a Orquestra Imperial e o maestro francês Jean-Claude Vannier dedicaram à obra de Serge Gainsbourg (1928-91).
Tanto quanto o figurino "básico" da cantora, sua intepretação ultracool acentuava as conexões entre Gainsbourg e a bossa nova, a França e o Brasil.
Caetano fez questão de reafirmar essas alianças em "Baudelaire", seu solo. Emendou, no final da balada gainsbourguiana, um trecho do samba "Siga", escrito nos anos 40 pelo pai de Edu Lobo, mas recriado por João Gilberto em 1991. Foram os únicos versos em português de toda a apresentação.
Mas Gainsbourg também é espetáculo, grandiloquência. E Thalma de Freitas se encarregou dessa faceta do compositor. Foi quem mais músicas cantou durante o concerto -e, a cada nova entrada, vinha com figurino diferente. Era a anti-Birkin. Explosiva, cênica, quente.
Enquadrada pelas regras do maestro, a Orquestra Imperial se comportou como... uma orquestra. Bem, era mesmo essa a proposta -mas ela não deixa de representar alguma perda. Sentiu-se falta da espontaneidade que sempre regeu as apresentações do coletivo carioca -e gritos do mezanino pedindo o repertório tradicional da banda formalizavam isso.
Mas o concerto soube traduzir a pluralidade de Gainsbourg, que ensinou na França dos anos 60 o que a gente já sabia no Brasil desde o fim dos 50: não é preciso ter voz grande para cantar -bem. Os gogós mais "limitados" da Orquestra -de Rubinho Jacobina, Domenico Lancelotti e Stephane San Juan- comprovaram essa tese.
Foram apenas duas apresentações, com ingressos esgotados em menos de duas horas. Quem não conseguiu ver ao vivo tem um alento: tudo foi gravado e deve virar DVD.


Avaliação: bom



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