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Crítica/show
Orquestra Imperial e convidados exploram as facetas de Gainsbourg
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Vestindo um All Star,
uma calça jeans desbotada e uma regata branca, Jane Birkin voltou ao palco
sozinha. E, sem nenhum instrumento soando para dar
apoio a sua voz frágil, cantou o
clássico "La Javanaise".
Delicadíssimo, o número encerrava com um fio de som -e o
silêncio atento da plateia do
Sesc Pinheiros- o primeiro dos
dois shows que ela, Caetano
Veloso, a Orquestra Imperial e
o maestro francês Jean-Claude
Vannier dedicaram à obra de
Serge Gainsbourg (1928-91).
Tanto quanto o figurino "básico" da cantora, sua intepretação ultracool acentuava as conexões entre Gainsbourg e a
bossa nova, a França e o Brasil.
Caetano fez questão de reafirmar essas alianças em "Baudelaire", seu solo. Emendou, no
final da balada gainsbourguiana, um trecho do samba "Siga",
escrito nos anos 40 pelo pai de
Edu Lobo, mas recriado por
João Gilberto em 1991. Foram
os únicos versos em português
de toda a apresentação.
Mas Gainsbourg também é
espetáculo, grandiloquência. E
Thalma de Freitas se encarregou dessa faceta do compositor.
Foi quem mais músicas cantou
durante o concerto -e, a cada
nova entrada, vinha com figurino diferente. Era a anti-Birkin.
Explosiva, cênica, quente.
Enquadrada pelas regras do
maestro, a Orquestra Imperial
se comportou como... uma orquestra. Bem, era mesmo essa a
proposta -mas ela não deixa de
representar alguma perda. Sentiu-se falta da espontaneidade
que sempre regeu as apresentações do coletivo carioca -e gritos do mezanino pedindo o repertório tradicional da banda
formalizavam isso.
Mas o concerto soube traduzir a pluralidade de Gainsbourg, que ensinou na França
dos anos 60 o que a gente já sabia no Brasil desde o fim dos 50:
não é preciso ter voz grande para cantar -bem. Os gogós mais
"limitados" da Orquestra -de
Rubinho Jacobina, Domenico
Lancelotti e Stephane San
Juan- comprovaram essa tese.
Foram apenas duas apresentações, com ingressos esgotados em menos de duas horas.
Quem não conseguiu ver ao vivo tem um alento: tudo foi gravado e deve virar DVD.
Avaliação: bom
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