São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

"Luz Negra" reflete consciência de classe com monumentalização do trabalho e materiais pesados

Nuno Ramos transforma espaço em trincheira

Divulgação
Instalação do artista plástico Nuno Ramos, que está em exposição na galeria Fortes Vilaça


FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Nuno Ramos é realista. Apresenta na galeria Fortes Vilaça uma instalação e quatro colagens que apequenam o espectador diante do acúmulo de materiais da indústria pesada.
O realismo reflete a consciência de classe do artista. Alia a evidência técnica do esforço produtivo à monumentalização do trabalho.
"Luz Negra" muda o térreo do edifício em trincheira. Andamos entre seis barricadas de areia bicolor, uma preta, outra ferrugem. O pilar central e uma parede são incorporados aos volumes.
Há dois tipos de objeto: tanque negro com vazado cilíndrico e muro avermelhado paralelo às paredes. Formam três pares, pois cada perfil recortado no primeiro coincide com um desenho sobre o plano do segundo. As laterais de ambos os grupos guardam as impressões horizontais das tábuas usadas para conter a areia socada.
Os tanques simulam molde de fundição. Nos meios, contêm óleo queimado, impedido de vazar por placas de vidro arredondado. O líquido impregna o ambiente do cheiro de máquinas.
O uso de matéria bruta repete-se no andar superior. Tiras paralelas de latão ou cobre são dispostas horizontalmente em quatro caixas quadradas com 2,44 metros de lado por 15 centímetros de profundidade. A cada painel metálico, o artista adiciona uma meia lua de espelho e um plano irregular de parafina colorida. A apresentação do processo construtivo é completada por escorridos que sobram da prensagem dos elementos uns contra outros.
A mostra exibe, ainda, um vídeo em colaboração com Eduardo Climashauska. Quatro peões arrastam imensa caixa de som por planície árida até um buraco, onde a enterram. Ouve-se da cova um samba. Nuno Ramos reafirma a crença na eloquência do trabalho pesado. A instalação, por exemplo, demandou seis operários para pilar areia nas formas.
Contudo assistimos ao momento inaugural de combinações instáveis. Apesar da impressão de solidez do conjunto, os elementos utilizados anunciam desagregação: evaporam, oxidam.
O trabalho mostra confronto do esforço com a instabilidade. O espectador reencontrará, assim, questão longamente elaborada na sólida carreira do artista.


Nuno Ramos    
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Vila Madalena, região oeste, tel. 3032-7066)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 10h às 17h
Quanto: entrada franca




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