|
Índice
ARTES PLÁSTICAS
"Luz Negra" reflete consciência de classe com monumentalização do trabalho e materiais pesados
Nuno Ramos transforma espaço em trincheira
Divulgação
|
Instalação do artista plástico Nuno Ramos, que está em exposição na galeria Fortes Vilaça |
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Nuno Ramos é realista.
Apresenta na galeria Fortes
Vilaça uma instalação e quatro
colagens que apequenam o espectador diante do acúmulo de materiais da indústria pesada.
O realismo reflete a consciência
de classe do artista. Alia a evidência técnica do esforço produtivo à
monumentalização do trabalho.
"Luz Negra" muda o térreo do
edifício em trincheira. Andamos
entre seis barricadas de areia bicolor, uma preta, outra ferrugem.
O pilar central e uma parede são
incorporados aos volumes.
Há dois tipos de objeto: tanque
negro com vazado cilíndrico e
muro avermelhado paralelo às
paredes. Formam três pares, pois
cada perfil recortado no primeiro
coincide com um desenho sobre o
plano do segundo. As laterais de
ambos os grupos guardam as impressões horizontais das tábuas
usadas para conter a areia socada.
Os tanques simulam molde de
fundição. Nos meios, contêm óleo
queimado, impedido de vazar por
placas de vidro arredondado. O líquido impregna o ambiente do
cheiro de máquinas.
O uso de matéria bruta repete-se no andar superior. Tiras paralelas de latão ou cobre são dispostas horizontalmente em quatro
caixas quadradas com 2,44 metros de lado por 15 centímetros de
profundidade. A cada painel metálico, o artista adiciona uma meia
lua de espelho e um plano irregular de parafina colorida. A apresentação do processo construtivo
é completada por escorridos que
sobram da prensagem dos elementos uns contra outros.
A mostra exibe, ainda, um vídeo
em colaboração com Eduardo
Climashauska. Quatro peões arrastam imensa caixa de som por
planície árida até um buraco, onde a enterram. Ouve-se da cova
um samba. Nuno Ramos reafirma
a crença na eloquência do trabalho pesado. A instalação, por
exemplo, demandou seis operários para pilar areia nas formas.
Contudo assistimos ao momento inaugural de combinações instáveis. Apesar da impressão de solidez do conjunto, os elementos
utilizados anunciam desagregação: evaporam, oxidam.
O trabalho mostra confronto do
esforço com a instabilidade. O espectador reencontrará, assim,
questão longamente elaborada na
sólida carreira do artista.
Nuno Ramos
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique
Coutinho, 1.500, Vila Madalena, região
oeste, tel. 3032-7066)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h, e
sáb., das 10h às 17h
Quanto: entrada franca
Índice
|