|
Próximo Texto | Índice
MOSTRA
Ator "recordista mundial" de participações em filmes é lembrado no Memorial
Wilson Grey é protagonista em SP
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
240? 250? Difícil precisar o número de participações que o ator
Wilson Grey, morto em 93, aos 69
anos, teve em filmes brasileiros.
A mostra com 15 filmes em vídeo
que o Memorial da América Latina
exibe de hoje a 16 de outubro pode
ajudar um pouco a dimensionar o
emblemático ator que participou
de todos os movimentos estilísticos da história do cinema brasileiro, do realismo ao vanguardismo.
É interessante apontar que um
dos poucos filmes em que ele figurou como protagonista, "O Segredo da Múmia" (82), de Ivan Cardoso, não está na grade.
Mas há sucessos, como "Nem
Sansão, nem Dalila", "Matar ou
Correr" (chanchadas), "O Rei do
Baralho" (udigrudi), "Vai Trabalhar Vagabundo" (ciclo Embrafilme) e "A Dança dos Bonecos"
(pós-anos 80, seu querido filme).
Este rol mostra a importância
que o próprio Grey hasteava, dizendo ser o "recordista mundial
em participações em filmes". Podia ser verdade, mas o fato é que
sempre foi o ator coadjuvante, o
pano-de-fundo da trama, lembrado pelo público, sim, mas sempre
atrás de Oscarito e Anselmo Duarte, por exemplo.
O cinema dos anos 60 e 70 mantiveram Wilson na mesma escala de
créditos nos filmes, mas fizeram de
sua imagem um ingrediente a mais
nos elementos típicos do cinema
do Brasil, com toda a aspereza e
elegia ao malandro e ao precário.
"Os Inconfidentes" (73), de Joaquim Pedro, é um exemplo.
O bigodinho, os sapatos bicolores de bico fino, o rosto com traços
fortes, os ternos equilibrando-se
entre o garboso e o precário, os cabelos em franca descompostura, o
jeitão de malandro da Lapa carioca, sobrevivente do caos econômico que peneirava a população não
podiam ligá-lo às platéias, que
viam nas salas a fuga da realidade.
E Wilson Grey foi real demais,
habitué confesso de um universo
tão áspero. Parente próximo do
malandro da esquina, amigo na vida real dos boêmios dos calçadões
fluminenses, anti-galã considerado feio pelo padrão vigente, ele foi
a negação ao star-system. Estava
inserido no sistema industrial por
outras vias (a participação em larga escala em vários filmes), não como seus belos colegas, lá, graças à
fina estampa e seus belos olhos.
Nunca trabalhou com Glauber
Rocha, uma rara exceção. Nunca
beijou a mocinha do filme, como
ele próprio apontou certa vez, um
tanto ressentido.
Mostra: Wilson Grey (vídeo)
Quando: de hoje a 16 de outubro; em sessões às
10h30, 12h30 e 15h30
Onde: Videoteca do Memorial da América
Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade,
664, tel. 3823-9623)
Quanto: entrada franca
Próximo Texto | Índice
|