São Paulo, segunda, 5 de outubro de 1998

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MOSTRA
Ator "recordista mundial" de participações em filmes é lembrado no Memorial
Wilson Grey é protagonista em SP

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

240? 250? Difícil precisar o número de participações que o ator Wilson Grey, morto em 93, aos 69 anos, teve em filmes brasileiros.
A mostra com 15 filmes em vídeo que o Memorial da América Latina exibe de hoje a 16 de outubro pode ajudar um pouco a dimensionar o emblemático ator que participou de todos os movimentos estilísticos da história do cinema brasileiro, do realismo ao vanguardismo.
É interessante apontar que um dos poucos filmes em que ele figurou como protagonista, "O Segredo da Múmia" (82), de Ivan Cardoso, não está na grade.
Mas há sucessos, como "Nem Sansão, nem Dalila", "Matar ou Correr" (chanchadas), "O Rei do Baralho" (udigrudi), "Vai Trabalhar Vagabundo" (ciclo Embrafilme) e "A Dança dos Bonecos" (pós-anos 80, seu querido filme).
Este rol mostra a importância que o próprio Grey hasteava, dizendo ser o "recordista mundial em participações em filmes". Podia ser verdade, mas o fato é que sempre foi o ator coadjuvante, o pano-de-fundo da trama, lembrado pelo público, sim, mas sempre atrás de Oscarito e Anselmo Duarte, por exemplo.
O cinema dos anos 60 e 70 mantiveram Wilson na mesma escala de créditos nos filmes, mas fizeram de sua imagem um ingrediente a mais nos elementos típicos do cinema do Brasil, com toda a aspereza e elegia ao malandro e ao precário. "Os Inconfidentes" (73), de Joaquim Pedro, é um exemplo.
O bigodinho, os sapatos bicolores de bico fino, o rosto com traços fortes, os ternos equilibrando-se entre o garboso e o precário, os cabelos em franca descompostura, o jeitão de malandro da Lapa carioca, sobrevivente do caos econômico que peneirava a população não podiam ligá-lo às platéias, que viam nas salas a fuga da realidade.
E Wilson Grey foi real demais, habitué confesso de um universo tão áspero. Parente próximo do malandro da esquina, amigo na vida real dos boêmios dos calçadões fluminenses, anti-galã considerado feio pelo padrão vigente, ele foi a negação ao star-system. Estava inserido no sistema industrial por outras vias (a participação em larga escala em vários filmes), não como seus belos colegas, lá, graças à fina estampa e seus belos olhos.
Nunca trabalhou com Glauber Rocha, uma rara exceção. Nunca beijou a mocinha do filme, como ele próprio apontou certa vez, um tanto ressentido.

Mostra: Wilson Grey (vídeo)
Quando: de hoje a 16 de outubro; em sessões às 10h30, 12h30 e 15h30
Onde: Videoteca do Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 3823-9623)
Quanto: entrada franca



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