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SP assiste ao seqüestro do papa
Comédia de João Bethencourt, dramaturgo morto no último dia 31, estréia no teatro Folha com direção de Iacov Hillel
Obra do teatro brasileiro mais encenada no exterior mostra taxista que conduz o desastrado rapto do pontífice em Nova York
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fazer lotar uma sala de teatro não é tarefa das mais fáceis;
conseguir isso no exterior, então, é coisa para poucos. E João
Bethencourt entra para a história do teatro brasileiro justamente por ter marcado presença lá fora.
O diretor e dramaturgo húngaro criado no Rio, morto em
decorrência de infecção generalizada aos 82 anos no último
dia 31, pode ser revisitado agora
com a montagem de seu texto
mais popular no exterior, "O
Dia que Raptaram o Papa", que
estréia hoje no Teatro Folha,
com direção de Iacov Hillel.
Escrita nos anos 70, a peça
estreou no teatro Copacabana,
no Rio, em 1972, com Eva Todor, André Villon e Afonso
Stuart nos papéis principais.
Depois, foi montada na Suíça,
Alemanha, Áustria, Itália,
França, Espanha, Portugal,
Grécia, Polônia, Argentina, Estados Unidos, Canadá e Israel,
tornando-se a peça brasileira
mais encenada no exterior.
A estrutura dramática convencional da peça, com abordagem bastante leve para questões acerca de conflitos religiosos, exemplifica o traço dos textos de Bethencourt, que Hillel
classifica como "comerciais".
"Bethencourt escreve dentro
de uma estrutura convencional, mas consegue passar muita
coisa nas entrelinhas de suas
peças, e é tudo muito bem escrito, tudo muito cuidadoso",
avalia Hillel.
Essa frugalidade habita várias outras comédias de costumes do autor, como "Dois Fragas e um Destino", "Como Matar um Playboy", "Frank Sinatra 4815", "O Crime Roubado" e
"Mister Sexo". "Eu queria encenar um texto que falasse sobre questões religiosas, mas
que não fosse pesado. E a forma
como Bethencourt tenta passar
uma mensagem de paz ao abordar essas questões com muito
humor e simplicidade se encaixou no projeto", conta Hillel.
Táxi
Em "O Dia que Raptaram o
Papa", o ponto inicial da comédia é a história de um taxista
nova-iorquino judeu que, ao
perceber que está transportando o papa e um cardeal, resolve
seqüestrá-los. A ingenuidade
do seqüestrador orienta o tom
burlesco: o personagem não
trata seus reféns com violência,
tampouco os leva para algum
lugar sombrio, mas sim para
sua própria casa, onde vive com
a mulher e os filhos.
A nova montagem, com Sérgio Viotti no papel do papa e Isser Korik interpretando o taxista, traz o texto integral com
muito poucas adaptações. Hillel apenas ajusta o contexto da
peça aos temas da atualidade.
No texto original, o taxista teve
um filho morto no Vietnã. Na
montagem de Hillel, a morte do
personagem acontece no Iraque. E o seqüestro do papa, antes narrado por rádio, agora vai
para a televisão, com cenas que
trazem participação de jornalistas, como Boris Casoy, Salette Lemos e Eloy Nunes.
O DIA QUE RAPTARAM O PAPA
Quando: sáb., às 20h e 22h; dom., às
20h; estréia hoje
Onde: Teatro Folha (Shopping Pátio
Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso 2, tel.: 3823-2323)
Quanto: R$ 35
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