São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

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SP assiste ao seqüestro do papa

Comédia de João Bethencourt, dramaturgo morto no último dia 31, estréia no teatro Folha com direção de Iacov Hillel

Obra do teatro brasileiro mais encenada no exterior mostra taxista que conduz o desastrado rapto do pontífice em Nova York


GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fazer lotar uma sala de teatro não é tarefa das mais fáceis; conseguir isso no exterior, então, é coisa para poucos. E João Bethencourt entra para a história do teatro brasileiro justamente por ter marcado presença lá fora.
O diretor e dramaturgo húngaro criado no Rio, morto em decorrência de infecção generalizada aos 82 anos no último dia 31, pode ser revisitado agora com a montagem de seu texto mais popular no exterior, "O Dia que Raptaram o Papa", que estréia hoje no Teatro Folha, com direção de Iacov Hillel.
Escrita nos anos 70, a peça estreou no teatro Copacabana, no Rio, em 1972, com Eva Todor, André Villon e Afonso Stuart nos papéis principais. Depois, foi montada na Suíça, Alemanha, Áustria, Itália, França, Espanha, Portugal, Grécia, Polônia, Argentina, Estados Unidos, Canadá e Israel, tornando-se a peça brasileira mais encenada no exterior.
A estrutura dramática convencional da peça, com abordagem bastante leve para questões acerca de conflitos religiosos, exemplifica o traço dos textos de Bethencourt, que Hillel classifica como "comerciais".
"Bethencourt escreve dentro de uma estrutura convencional, mas consegue passar muita coisa nas entrelinhas de suas peças, e é tudo muito bem escrito, tudo muito cuidadoso", avalia Hillel.
Essa frugalidade habita várias outras comédias de costumes do autor, como "Dois Fragas e um Destino", "Como Matar um Playboy", "Frank Sinatra 4815", "O Crime Roubado" e "Mister Sexo". "Eu queria encenar um texto que falasse sobre questões religiosas, mas que não fosse pesado. E a forma como Bethencourt tenta passar uma mensagem de paz ao abordar essas questões com muito humor e simplicidade se encaixou no projeto", conta Hillel.

Táxi
Em "O Dia que Raptaram o Papa", o ponto inicial da comédia é a história de um taxista nova-iorquino judeu que, ao perceber que está transportando o papa e um cardeal, resolve seqüestrá-los. A ingenuidade do seqüestrador orienta o tom burlesco: o personagem não trata seus reféns com violência, tampouco os leva para algum lugar sombrio, mas sim para sua própria casa, onde vive com a mulher e os filhos.
A nova montagem, com Sérgio Viotti no papel do papa e Isser Korik interpretando o taxista, traz o texto integral com muito poucas adaptações. Hillel apenas ajusta o contexto da peça aos temas da atualidade.
No texto original, o taxista teve um filho morto no Vietnã. Na montagem de Hillel, a morte do personagem acontece no Iraque. E o seqüestro do papa, antes narrado por rádio, agora vai para a televisão, com cenas que trazem participação de jornalistas, como Boris Casoy, Salette Lemos e Eloy Nunes.


O DIA QUE RAPTARAM O PAPA
Quando:
sáb., às 20h e 22h; dom., às 20h; estréia hoje
Onde: Teatro Folha (Shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso 2, tel.: 3823-2323)
Quanto: R$ 35


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