São Paulo, sábado, 06 de março de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Artista inaugura hoje exposição na galeria Casa Triângulo

Sérgio Romagnolo "abafa" a bossa nova com esculturas

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um cantinho e um violão, uma bateria, chinelos havaianas, fuscas. O ambiente até lembra a bossa nova, mas uma "bossa nova abafada", segundo Sérgio Rogmanolo. O artista abre hoje uma exposição na galeria Casa Triângulo, com elementos de um dos movimentos musicais brasileiros mais conhecidos.
Violão, bateria, havaianas e fuscas são alguns dos objetos que o artista utiliza em sua nova série de esculturas, as já conhecidas obras realizadas em plástico vermelho. Essa série é "abafada" pois, junto aos elementos musicais, Romagnolo amarra pantufas, também em plástico.
"Busco reunir elementos distintos, pois essa junção permite novas leituras. Esse espaço entre eles é, para mim, o espaço poético, que permite a participação do observador. Mas não se trata de uma abertura ilimitada, mas, sim, controlada", diz o artista.
As pantufas também servem como referência à história da arte, o que, na trajetória de Romagnolo como artista, tem sido sempre uma constante. Neste caso, remetem-se às obras em feltro do alemão Josef Beuys (1921-1986), para quem tal material representava a sensação de segurança, abrigo e calor humano.
Apesar de não ser intencional a referência à bossa nova, a reunião dos objetos na mostra parte de uma preocupação dileta na carreira de Romagnolo, que é uma associação com elementos da cultura brasileira.
Foi assim, por exemplo, com os 12 profetas de Aleijadinho, que o artista também transformou em plástico derretido. "A cultura brasileira é de fato uma referência constante em meu trabalho", assume Romagnolo.
Com essa nova série, o artista se vê num momento de depuração de seu trabalho. "Vários desses elementos, como os instrumentos musicais ou os calçados, já foram utilizados por mim. Mas o uso recorrente deles mostra que se trata de uma depuração", explica.
Entretanto, a grande novidade na exposição é o caráter monumental que as esculturas atingem: dois fuscas, em tamanho natural, sendo que está virado de ponta-cabeça, impressionam pelas suas dimensões.
Além das esculturas, Romagnolo apresenta ainda quatro pinturas recentes, todas feitas tendo como tema os objetos da mostra. "Fui apenas pintor durante dez anos, depois exclusivamente escultor por mais dez e, desde 96, tenho trabalhado com os dois suportes. Mas a pintura sofre influência da escultura, pois ela parte do princípio da ruga, que é recorrente nos objetos."
"Para alcançar esse feito, desenho uma imagem e recubro ela com tinta branca", conta o artista. Assim, ao branquear as imagens, Romagnolo acaba por, novamente, criar um efeito de abafar a bossa nova.


SERGIO ROMAGNOLO. Mostra com 13 novas obras do artista paulistano. Onde: Casa Triângulo (r. Paes de Araújo, 77, tel. 3167-5621). Quando: abertura hoje, 12h; de ter. a sáb., das 11h às19h; até 27/3. Quanto: entrada franca; obras de US$ 1.500 a US$ 30 mil.


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