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ERUDITO/CRÍTICA
Osesp e Minczuk, um passo aquém do deslumbramento
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Era o início da temporada e lá
estava ela, novamente, depois
de tanto tempo. Viçosa, arrojada,
confiante, fazendo-se outra em si
mesma, a "Nona Sinfonia" de
Beethoven (1770-1827) enchia a
Sala São Paulo de inteligência e
emoção. E a Sala lotada vibrava
do jeito mais intenso que há: em
silêncio, ninguém nem respirando durante a gravação ao vivo da
Osesp, regida por Roberto Minczuk, na última quinta.
Só uma performance de palco
consegue resgatar a "Nona" dos
calabouços da repetição. Para dar
o exemplo mais óbvio: o grande
tema do quarto movimento, já
degradado a toques de telefone
celular. Quando os violoncelos e
contrabaixos atacaram, parecia
uma música inédita, nascida naquele momento.
Isso tem a ver, em parte, com o
timbre e dinâmica que Minczuk
imprimiu à frase, começando no
escuro e só crescendo no final do
terceiro grupo de quatro compassos, para logo depois voltar ao
fundo de onde saiu. A ironia é que
se trata do que está escrito na partitura (e não é a menor virtude do
regente esse respeito pelo texto).
Mas vem também de uma idéia da
sinfonia como um todo, que se vai
dando a conhecer, com as surpresas de uma história real.
Surpresas e frustrações também, nalguma medida, para as
expectativas que ela mesma criou.
Foi tanta coisa bonita que se ouviu -como as escalas dos sopros,
ou o colchão sonoro sustentando
as larguezas do "Adágio", ou as
luzes do Coro da Osesp (mais Coral Paulistano), ou o equilibrado
quarteto vocal-, que parece injusto reclamar. Nem se trata de
cobrar afinação aqui e ali. Sempre
se pode passar o Pro-Tools nas
trompas, depois.
Também não seria legítimo pedir uma interpretação revolucionária da mais revolucionária das
sinfonias. Minczuk nunca teve
preocupações assim. Rege de
dentro para fora da música, o que
é menos comum do que parece.
Dessa perspectiva mesmo é que se
pode entender sua "Nona": esculpida em mármore, não titânio.
Mas o que faltou, então? De um
dicionário de sinônimos: arrebatamento, deslumbramento, êxtase? Mas era o primeiro concerto
do ano, e ainda por cima sendo
gravado. Já foi uma "Nona" e tanto e hoje provavelmente estoura.
Osesp
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
s/nš, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 16:30h
Quanto: de R$ 22 a R$ 70
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