São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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TEATRO
"Ô Abre Alas", espetáculo orçado em R$ 450 mil, mostra a vida e a obra da compositora, dos 13 aos 87 anos
Musical coloca Chiquinha Gonzaga no palco

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha

Em parte responsável pelo boom de Chiquinha Gonzaga, hoje tema de minissérie, disco e relançamento de livro, estréia em São Paulo o musical "Ô Abre Alas".
Centrado na história da compositora, instrumentista e maestrina -primeira no país- Chiquinha Gonzaga (1847-1935), o espetáculo aborda desde seus relacionamentos amorosos e lutas políticas em prol do abolicionismo e da República até a sua miséria e insistência na música.
"Chiquinha lutou contra tudo e contra todos. Esteve à frente de seu tempo, e a sociedade da época é sua antagonista, pois a condenou quando ela deixou o marido e os filhos para seguir a carreira", diz a atriz Rosamaria Murtinho, que interpreta Chiquinha Gonzaga.
Filha de pai militar e mãe mulata, Chiquinha foi criada como uma sinhazinha. Estudava piano e aos 11 anos compunha sua primeira música.
Casou-se, por imposição dos pais, aos 16 anos, com um oficial da Marinha (Jacinto Ribeiro do Amaral) e anos depois com um engenheiro de estradas de ferro (João Batista de Carvalho). Teve quatro filhos, João Gualberto, Hilário, Maria e Alice, e durante todo o período aprimorou sua técnica pianística.
Renegada pelos pais e em dificuldades financeiras, Chiquinha passou a dar aulas para sobreviver. Ingressou no grupo Choro Carioca, tocando em festas e intensificando seu contato com o meio artístico.
Sua primeira grande composição, a polca "Atraente", surgiu de improviso em uma roda de choro, em 1877.
Descobriu, aos 52 anos, o amor por João Lage, de apenas 16, e com ele ficou até a morte. Despertou o preconceito por desafiar os padrões familiares e ainda marcou participação em movimentos políticos.
Até morrer, com 87 anos, sobreviveu de seu trabalho na música, conquistando o título de única regente no país e colecionando cerca de 2.000 composições, entre partituras para peças teatrais, polcas, maxixes, valsas, tangos etc.

Enredo
Quando montada pela primeira vez, em 1983 pelo Teatro Popular do Sesi, a história de Chiquinha Gonzaga, escrita também por Maria Adelaide Amaral, tinha 101 personagens, 31 atores e duas horas e meia de espetáculo.
"Ô Abre Alas", com texto adaptado, não deixa por menos.
Orçado em R$ 450 mil -dinheiro em parte conseguido com o ex-ministro Sérgio Motta por meio da Telerj-, com 189 figurinos, 11 cenários e 22 atores, "Ô Abre Alas" inicia a ação com Chiquinha em seu leito de morte, quando, em delírio, começa a repassar sua vida a partir da adolescência.
Reconstituindo época e ambientes, como a rua do Ouvidor e o Palácio do Catete no século 19, "Ô Abre Alas", ao contrário da minissérie -que destaca os romances-, volta-se à produção e participação de Chiquinha na música, como defensora dos direitos autorais e fundadora da Sbat (Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais).
Dividido em dois atos, o espetáculo apresenta 22 composições de Chiquinha, entre elas a música-título, que está completando cem anos, "Forrobodó" e "Corta-Jaca".

Peça: Ô Abre Alas Texto: Maria Adelaide Amaral Direção geral: Charles Moeller Direção musical: Cláudio Botelho Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h Onde: Teatro Alfa Real (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000) Quanto: R$ 20 a R$ 35 Patrocinadores: Telerj, Casas Bahia e Rio Sul


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