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"O Disco Solar" atualiza cultura inca
da Redação
O resgate de uma identidade latino-americana como contraponto aos 500 anos de descobrimentos (da América, em 92, e do Brasil, agora) é a proposta da peça "O
Disco Solar", que estréia hoje no
teatro São Pedro.
Escrita por Ana Vitória Vieira
Monteiro ("Brasil Outros 500"), o
espetáculo remete à história dos
incas, os chamados Filhos do Sol,
donos de uma civilização construída antes da conquista espanhola no século 16.
O ponto de partida é a trajetória
de Rumi, a imperatriz de Cuzco
(antiga capital inca), mulher do líder Atahualpa, morto em 1533 e
esmagado com o seu povo assim
que as caravelas do explorador espanhol Francisco Pizarro (1475-1541) aportaram em terras latinas.
Como única sobrevivente, Rumi preservou os objetos sagrados
do império, permitindo a continuidade daquela cultura autóctone.
"Rumi é um mito feminino que
raramente é mencionado na história da América Latina", diz Ana
Vitória, 55. "Ela foi responsável
pela sobrevivência da cultura e da
manutenção do disco solar, objeto sagrado de adoração que refletia o sol", completa Leona Cavalli,
28, que interpreta o papel e assume a produção do espetáculo.
Também estão em cena os personagens Inca (Fransérgio Araújo),
Mensageiro (Eucir de Souza), Sacerdote 1 (Sérgio Portella) e Sacerdote 2 (Franklin de Albuquerque).
Um dos aspectos interessantes
de "O Disco Solar" é a noção de
navegação: aquela, de 500 atrás,
que dizimou milhares, inclusive a
própria língua, o quéchua, e a de
hoje, na rede mundial de computadores, que também não deixa
de ser um domínio de território
sem fronteiras.
"Num momento de transformação provocada pela chegada
de uma nova linguagem, como
ocorre com a Internet, é importante revelar a existência de uma
civilização que tem a ver com nossa história, com a nossa origem
cultural, que é absolutamente
desconhecida", afirma Leona.
A montagem marca também a
segunda direção de Marcelo
Drummond ("Boca de Ouro"),
37. Ele já comandara Paschoal da
Conceição no monólogo "Os Malefícios do Tabaco" (98). Incorporado há dois meses ao projeto, o
primeiro-ator do grupo Uzyna
Uzona/Oficina diz não se sentir
propriamente na pele de encenador. "Sou mais um diretor de
ator", define-se.
Apesar do fundamento histórico, Drummond garante que texto
e montagem não constituem um
espetáculo de época. "O teatro
moderniza as coisas, traz para a
época atual, porque se dá ao vivo,
na relação com a platéia. Mesmo
que enfie um monte de roupas
nos atores e um cenariozinho de
época, o teatro é sempre atual",
acredita. O som de DJ (Shiva Las
Vegas e Anvil FX) e as imagens de
vídeo, captadas por Caru Alves de
Souza, filha da cineasta Tata
Amaral, endossam o caráter contemporâneo.
Depois desta curta temporada,
"O Disco Solar" retorna ao cartaz
no próximo dia 28, no teatro Oficina.
(VALMIR SANTOS)
Peça: O Disco Solar
Autora: Ana Vitória Vieira Monteiro
Diretor: Marcelo Drummond
Com: Leona Cavalli, Fransérgio Araújo,
Eucir de Souza, Sérgio Portella e Franklin
Albuquerque
Quando: estréia hoje, às 21h; amanhã e
sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda,
171, tel. 3667-0499)
Quanto: R$ 15
Patrocinador: Novelli
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