São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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"O Disco Solar" atualiza cultura inca

da Redação

O resgate de uma identidade latino-americana como contraponto aos 500 anos de descobrimentos (da América, em 92, e do Brasil, agora) é a proposta da peça "O Disco Solar", que estréia hoje no teatro São Pedro.
Escrita por Ana Vitória Vieira Monteiro ("Brasil Outros 500"), o espetáculo remete à história dos incas, os chamados Filhos do Sol, donos de uma civilização construída antes da conquista espanhola no século 16.
O ponto de partida é a trajetória de Rumi, a imperatriz de Cuzco (antiga capital inca), mulher do líder Atahualpa, morto em 1533 e esmagado com o seu povo assim que as caravelas do explorador espanhol Francisco Pizarro (1475-1541) aportaram em terras latinas.
Como única sobrevivente, Rumi preservou os objetos sagrados do império, permitindo a continuidade daquela cultura autóctone.
"Rumi é um mito feminino que raramente é mencionado na história da América Latina", diz Ana Vitória, 55. "Ela foi responsável pela sobrevivência da cultura e da manutenção do disco solar, objeto sagrado de adoração que refletia o sol", completa Leona Cavalli, 28, que interpreta o papel e assume a produção do espetáculo. Também estão em cena os personagens Inca (Fransérgio Araújo), Mensageiro (Eucir de Souza), Sacerdote 1 (Sérgio Portella) e Sacerdote 2 (Franklin de Albuquerque).
Um dos aspectos interessantes de "O Disco Solar" é a noção de navegação: aquela, de 500 atrás, que dizimou milhares, inclusive a própria língua, o quéchua, e a de hoje, na rede mundial de computadores, que também não deixa de ser um domínio de território sem fronteiras.
"Num momento de transformação provocada pela chegada de uma nova linguagem, como ocorre com a Internet, é importante revelar a existência de uma civilização que tem a ver com nossa história, com a nossa origem cultural, que é absolutamente desconhecida", afirma Leona.
A montagem marca também a segunda direção de Marcelo Drummond ("Boca de Ouro"), 37. Ele já comandara Paschoal da Conceição no monólogo "Os Malefícios do Tabaco" (98). Incorporado há dois meses ao projeto, o primeiro-ator do grupo Uzyna Uzona/Oficina diz não se sentir propriamente na pele de encenador. "Sou mais um diretor de ator", define-se.
Apesar do fundamento histórico, Drummond garante que texto e montagem não constituem um espetáculo de época. "O teatro moderniza as coisas, traz para a época atual, porque se dá ao vivo, na relação com a platéia. Mesmo que enfie um monte de roupas nos atores e um cenariozinho de época, o teatro é sempre atual", acredita. O som de DJ (Shiva Las Vegas e Anvil FX) e as imagens de vídeo, captadas por Caru Alves de Souza, filha da cineasta Tata Amaral, endossam o caráter contemporâneo.
Depois desta curta temporada, "O Disco Solar" retorna ao cartaz no próximo dia 28, no teatro Oficina. (VALMIR SANTOS)



Peça: O Disco Solar Autora: Ana Vitória Vieira Monteiro Diretor: Marcelo Drummond Com: Leona Cavalli, Fransérgio Araújo, Eucir de Souza, Sérgio Portella e Franklin Albuquerque Quando: estréia hoje, às 21h; amanhã e sáb., às 21h; dom., às 18h Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, tel. 3667-0499)
Quanto: R$ 15
Patrocinador: Novelli


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