UOL


São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

Próximo Texto | Índice

Quadrinhos e desenhos japoneses invadem os espaços do CCSP

Mangá em ação

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Até bem pouco tempo atrás, mangá era para poucos. Para fãs que pareciam viver em outro mundo, trocando suas revistinhas e fitas de desenhos animados japoneses, os animes, em convenções ultra-especializadas em que exótico seria quem não estivesse vestindo uma fantasia ou bugiganga de seu personagem preferido. Nada disso deixou de acontecer, mas a diferença é que, agora, o quadrinho japonês virou cult.
Sucesso de vendas nos maiores mercados de HQs do mundo (EUA, Brasil, Itália, França), influência visual cada vez mais direta na música pop e até vencedor do Oscar de animação deste ano, com o belíssimo "Viagem de Chihiro", o universo dos desenhos e quadrinhos japoneses ganha destaque, durante todo o mês, no Centro Cultural São Paulo.
Parte da Mostra Cinema e Quadrinhos no CCSP, a exposição "Uma Pequena Viagem ao Mangá e Anime" reúne acetatos originais e pôsteres de dezenas de produções importantes da história do gênero, como a série "Akira", de Katsuhiro Otomo, e o curioso "Tetsuwan Atomu", um dos primeiros animes (lê-se animês) a chegar à televisão japonesa.
A preciosidade histórica é uma das principais atrações da sessão Neo Animation, organizada por um grupo de admiradores que se reúne todo terceiro domingo do mês na Gibiteca Henfil, do CCSP. Entre outras produções, em sua maioria inéditas no Brasil, estão um especial em vídeo de "Ranma 1/2", o divertido "One Piece" e os nostálgicos "Patrulha Estelar" e "Cavaleiros do Zodíaco - Saga de Hades", série responsável, no Brasil, pela febre do mangá.
Se, para os não iniciados, parte desse amontoado de nomes pode não dizer muita coisa, para os entusiastas ("otaku") nem sempre tudo é novidade. "Com a internet a gente pode baixar os animes mais recentes que não vão passar no Brasil. Quando chega aqui, a maioria já comprou os mangás na Liberdade. Tem quem até aula de japonês faça para ler os originais", diz Koji Nomura, 27, responsável pelo Neo Animation.
E é justamente essa obsessão, não raro, que acaba devolvendo ao gueto os "otaku". "Não gosto desse termo. No Japão ele é pejorativo, se refere ao cara que só consegue se ocupar de um hobby e não tem nem vida social nem sexual", aponta Alexandre Nagado, 32, desenhista representado na coletânea "Mangá Tropical" (Ed. Via Lettera), que reúne a nata do mangá nacional e também está sendo lançada no evento.
Modismo ou não, a mostra do CCSP não privilegia apenas os quadrinhos japoneses. Com uma abordagem mais técnica, a professora da Universidade Mackenzie Tereza Denser e o quadrinista Luiz Gê iniciam um workshop na terça-feira sobre as intertextualidades entre o cinema e as HQs.
A tese de Gê é de que tanto um quanto o outro são igualmente "movimento desenhado". "Os quadrinhos nasceram oficialmente no mesmo ano que o cinema, em 1895. Só que 30 anos antes as HQs já eram faladas."
Para ilustrar a teoria, estão programadas exibições dos filmes "Akira", "Homem-Aranha", "Batman", "Superman, o Filme", "Spawn", "Flash Gordon Conquista o Universo", "Asterix & Obelix", "Dick Tracy", "Do Inferno", "Estrada para Perdição".



Próximo Texto: "A máfia volta ao divã": Filme extravasa a típica violência americana
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.