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Livro "Quando Nietzsche Chorou" ganha adaptação para os palcos
DA REPORTAGEM LOCAL
O romance "Quando Nietzsche
Chorou" (1992), do irlandês Irvin
D. Yalom, mais de 200 mil exemplares vendidos no Brasil, é adaptado para o palco no espetáculo
de mesmo nome que estréia hoje
no teatro Imprensa.
A empreitada é do diretor Ulisses Cohn e do ator Nelson Baskerville, co-adaptadores. Cinco anos
atrás, o primeiro adquiriu os direitos com o autor. Tempos depois, Baskerville o procurou pelo
mesmo motivo e decidiram pela
parceria.
Segundo Cohn, trata-se possivelmente da primeira versão teatral do romance. Há notícias de
outra na França, que estaria por
estrear. E ainda uma adaptação
para o cinema.
Yalom maneja dados e personagens do final do século 19 para
construir uma história ficcional
de amizade "que poderia ter
acontecido".
O renomado médico vienense
Josef Breuer é convencido pela escritora russa Lou Andreas-Salomé a tratar do filósofo alemão
Friedrich Nietzsche, tido como
um desesperado na busca de razões além das razões -o limiar
do suicídio, temem os amigos.
Os encontros de Nietzsche e
Breuer, no consultório deste, são
guiados pela "terapia da conversa". A psicanálise ainda não surgira, mas é coadjuvante o tempo todo. Não por acaso, Breuer tem em
Freud um interlocutor decisivo
para orientá-lo na relação com
aquele paciente tão áspero e ao
mesmo tempo cativante.
Lá pelas tantas, médico e filósofo invertem seus papéis. Por um
mês, este cuidaria da mente e do
espírito daquele, que se concentraria apenas nos sintomas do
corpo do outro.
"Apesar de ser um texto reflexivo, o foco da adaptação foi fazer
dele teatro, condensar todo o conteúdo no embate de emoções e de
idéias entre os dois personagens,
o amadurecimento de uma amizade", diz Cohn, 42.
Baskerville interpreta Breuer e
Cassio Scapin, Nietzsche. Os demais personagens da trama são
projetados em vídeo, por vezes
dialogando diretamente com o filósofo ou o médico.
Assim, Lou Salomé, a paixão
platônica de Nietzsche, é interpretada Ana Paulo Arósio, enquanto
Lígia Cortez vive Mathilde, a mulher do casamento frustrado de
Breuer, ele que depara com o
amor redivivo por uma paciente.
"São duas relações de amor obsessivo que eles acabam superando num processo de duplo tratamento", diz o diretor. Há ainda
um quarto personagem virtual,
Freud (Flávio Tolezani), que na
vida real foi aluno de Breuer.
Apesar do fundo teórico da filosofia e da psicanálise, o texto acaba por revelar, segundo Ulisses
Cohn, traços da existência de
qualquer ser em conflito com seu
destino, as decisões da vida, as
frustrações, as perdas. Todos anseiam por uma cura, ou por "tornar-te quem tu és!", para usar
uma expressão de Nietzsche.
(VS)
Quando Nietzsche Chorou
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb.,
às 21h; dom., às 19h; até 6/8
Onde: teatro Imprensa (r. Jaceguai, 400,
Bela Vista, tel. 3241-4203)
Quanto: R$ 50 (qui. e sex.) e R$ 60 (sáb. e
dom.)
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