São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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Livro "Quando Nietzsche Chorou" ganha adaptação para os palcos

DA REPORTAGEM LOCAL

O romance "Quando Nietzsche Chorou" (1992), do irlandês Irvin D. Yalom, mais de 200 mil exemplares vendidos no Brasil, é adaptado para o palco no espetáculo de mesmo nome que estréia hoje no teatro Imprensa.
A empreitada é do diretor Ulisses Cohn e do ator Nelson Baskerville, co-adaptadores. Cinco anos atrás, o primeiro adquiriu os direitos com o autor. Tempos depois, Baskerville o procurou pelo mesmo motivo e decidiram pela parceria.
Segundo Cohn, trata-se possivelmente da primeira versão teatral do romance. Há notícias de outra na França, que estaria por estrear. E ainda uma adaptação para o cinema.
Yalom maneja dados e personagens do final do século 19 para construir uma história ficcional de amizade "que poderia ter acontecido".
O renomado médico vienense Josef Breuer é convencido pela escritora russa Lou Andreas-Salomé a tratar do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, tido como um desesperado na busca de razões além das razões -o limiar do suicídio, temem os amigos.
Os encontros de Nietzsche e Breuer, no consultório deste, são guiados pela "terapia da conversa". A psicanálise ainda não surgira, mas é coadjuvante o tempo todo. Não por acaso, Breuer tem em Freud um interlocutor decisivo para orientá-lo na relação com aquele paciente tão áspero e ao mesmo tempo cativante.
Lá pelas tantas, médico e filósofo invertem seus papéis. Por um mês, este cuidaria da mente e do espírito daquele, que se concentraria apenas nos sintomas do corpo do outro.
"Apesar de ser um texto reflexivo, o foco da adaptação foi fazer dele teatro, condensar todo o conteúdo no embate de emoções e de idéias entre os dois personagens, o amadurecimento de uma amizade", diz Cohn, 42.
Baskerville interpreta Breuer e Cassio Scapin, Nietzsche. Os demais personagens da trama são projetados em vídeo, por vezes dialogando diretamente com o filósofo ou o médico.
Assim, Lou Salomé, a paixão platônica de Nietzsche, é interpretada Ana Paulo Arósio, enquanto Lígia Cortez vive Mathilde, a mulher do casamento frustrado de Breuer, ele que depara com o amor redivivo por uma paciente. "São duas relações de amor obsessivo que eles acabam superando num processo de duplo tratamento", diz o diretor. Há ainda um quarto personagem virtual, Freud (Flávio Tolezani), que na vida real foi aluno de Breuer.
Apesar do fundo teórico da filosofia e da psicanálise, o texto acaba por revelar, segundo Ulisses Cohn, traços da existência de qualquer ser em conflito com seu destino, as decisões da vida, as frustrações, as perdas. Todos anseiam por uma cura, ou por "tornar-te quem tu és!", para usar uma expressão de Nietzsche. (VS)


Quando Nietzsche Chorou
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h; até 6/8
Onde: teatro Imprensa (r. Jaceguai, 400, Bela Vista, tel. 3241-4203)
Quanto: R$ 50 (qui. e sex.) e R$ 60 (sáb. e dom.)



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