São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003 |
Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS Deslocamentos de elementos do cotidiano servem como temática para exposição da Galeria Vermelho Mostra privilegia objetos "fora de ordem"
FABIO CYPRIANO DA REPORTAGEM LOCAL A bandeira da Argentina está com um de seus elementos, o sol, deslocado, fora do centro; uma garota tem uma folha verde no lugar da língua; espelhos não refletem o espectador e uma trave não serve para receber a bola. Algumas coisas estão fora de ordem na galeria Vermelho, graças à mostra "1 Lúcia, 2 Lúcias". O deslocamento de significados de elementos cotidianos pode ser visto como fio condutor da exposição, mas suas motivações variam de acordo com a intenção de cada um dos quatro artistas na mostra: Lia Chaia , Fabiano Marques, Leandro da Costa e Nicolás Robbio. Também em comum está a exploração de vários suportes, seja o vídeo, a pintura, a escultura ou a fotografia nesses jovens artistas, com idades entre 24 e 33 anos. Com Chaia, 24, a paisagem, tanto urbana quanto natural, torna-se tema central em suas novas seis obras expostas. "Não quero falar que a cidade é ruim e o mato é bom. Mudei de casa e isso proporcionou uma nova visão urbana, ao mesmo tempo que tenho viajado muito pelo Brasil, o que trouxe novos elementos para minha obra", diz a artista. A cidade surge em "Madrugada", fotos de uma personagem feminina mítica (uma puta?) em meio a cenários urbanos comuns; "Horizonte", na qual o concreto recobre edifícios fotografados, "Coluna", uma foto de um prédio inserido nas costas de Chaia, e "Cidade Pictórica", um simples registro de dias de chuva em vídeo, de dentro do carro, que tornam o monitor da TV um quadro impressionista em movimento. "A paisagem sempre interfere em nós, em nossas atitudes, assim como nós a transformamos", afirma Chaia, que acaba de receber uma bolsa de estudos da Faap para mudar de paisagem: irá viver por seis meses em Paris. Chaia apresenta ainda "Verdejar", um mural sobre a paisagem tropical, com direito a referências a Tarsila do Amaral, no qual Chaia introduz janelas brancas, e "Folhíngua", as tais fotos da própria artista com folhas na boca. Já o argentino Robbio, 28, cria duas obras de grande impacto na Vermelho. Ele é responsável por alterar a bandeira argentina, em grandes dimensões, na fachada da galeria, o que gerou controvérsia na montagem da mostra. "Não é uma atitude nacionalista, mas de crítica política. Ao deslocar o sol faço ainda uma referência à minha própria história, que é de deslocamento, pois optei viver no Brasil", diz Robbio. O deslocamento é tema ainda de outra pintura do artista, na sala central da galeria. Vê-se a trajetória de uma cadeira vermelha pintada na parede, como se Robbio registrasse os caminhos da cadeira sendo jogada no espaço. O artista apresenta ainda fotos, objetos e desenhos na mostra. Marques, 33, irá explicitar o deslocamento na própria duração da exposição. Sua escultura, "Jibe" (expressão que significa uma manobra de vela), será reestruturada ao longo da mostra. "Parto da idéia de velejar como um processo, o que se reflete no trabalho", diz o artista, que expõe também maquetes, dois vídeos e outra série de esculturas, denominada "Carapaças". Finalmente, Costa, 29, apresenta fotos nas quais a manipulação da digitação é explicitada, seja deixando rastros das pessoas que compunham as imagens que o artista se apropria, seja refazendo espelhos que refletem espaços, mas não o ato do próprio registro, deslocando o artista e o público da própria obra de arte. 1 LÚCIA, 2 LÚCIAS. Mostra com obras dos artistas plásticos Fabiano Marques, Leandro da Costa, Lia Chaia e Nicolás Robbio. Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, tel. 3257-2033). Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Até 31/ 5. Quanto: entrada franca. Próximo Texto: Trabalhos surgem de tensão Índice |
|