São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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TEATRO

Textos curtos do autor se revezam no projeto Porto Aberto com outras peças

Arena acolhe dramaturgia homoerótica de Moreno

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Os atores Juno Ribeiro (esq.) e Lucas Braguirolli em "Querô"


DA REPORTAGEM LOCAL

A dramaturgia segue fazendo história no teatrinho da rua Teodoro Baima, com a ocupação da vez pela cia. Livre. Até junho, está em curso o "Porto Aberto" a outros conjuntos. Vide a semana.
Ontem, estreou no Arena "De Quatro", texto e direção de Gustavo Machado, da mesma Livre. Hoje é vez de uma tríplice aliança de dramaturgias modernas: "A Serpente", de Nelson Rodrigues (1912-80), pela cia. Grão, direção de Cristiane Urbinatti e Laura Knoll; "Querô", de Plínio Marcos (1935-99), pela cia. Mal-Ditos, direção de Fransérgio Araújo; e "A Cicatriz É a Flor", de Newton Moreno, 36, pela cia. Akasha, direção de Georgette Fadel.
Do mesmo Moreno, reestréia amanhã "Dentro", monólogo interpretado por Renato Borghi e dirigido por Nilton Bicudo, pelo grupo Teatro Promíscuo.
O pernambucano Moreno, assim como o cearense Gero Camilo ("Aldeotas"), vê este 2004 transformado em ano de afirmação. É autor ainda de "Agreste", que a cia. Razões Inversas, dirigida por Márcio Aurélio, leva no teatro Cacilda Becker, na Lapa.
Com a temporada casada dos textos curtos "A Cicatriz É a Flor" e "Dentro", Moreno estabelece o projeto "Body Art", no qual lança olhar contemporâneo sobre o universo homoerótico.
No primeiro, uma mulher (Luah Guimarãez) desenha com cicatriz no corpo de sua amante (Mariana Senne) a mais bela frase de amor que pode lhe dizer. Desenvolvem esse ritual por anos, em silêncio, construindo um "corpo-santuário" de afetos, até a noite em que essas mulheres descobrem que a jornada terminou e são levadas a refletir sobre posse, liberdade e beleza.
Em "Dentro", um homem (Borghi) encontra um rapaz (Elcio Nogueira Seixas) para um ritual amoroso. Preparam-se para o "fist-fucking" (sexo anal por meio do punho) enquanto conversam sobre afetos e carne, explorando as metáforas possíveis desse jogo sexual, de confiança e risco, de intimidade e posse.
Segundo Moreno, a narrativa se veste de lirismo agressivo que atrai e repulsa, num movimento cênico que privilegia o discurso amoroso, seduzindo para o "maldito" que se revela poético, saudoso e intenso: o corpo toca a alma, a alma toca o corpo.
"A intenção é instaurar naquele que assiste a esses trabalhos uma outra sensibilidade na relação com esse corpo expandido, em trânsito, transexual, body-modificado, hipersensível, alterado, que se constrói em rituais de práticas subterrâneas. Há uma vontade de recuperar a idéia do corpo como meio de comunicação, como atitude contrária à norma, como vetor político que reforça a imagem de transgressão e resistência", diz o dramaturgo.
(VALMIR SANTOS)

ARENA PORTO ABERTO. Onde: Teatro de Arena Eugênio Kusnet (r. Teodoro Baima, 94, centro, tel. 3256-9463). Peça: "De Quatro", às qua., 21h30; até 30/6. Peça: "A Serpente", às qui. e sex., às 20h; até 25/6. Peça: "A Cicatriz É a Flor", às qui. e sex., à meia-noite; até 25/6. Peça: "Dentro", às sex., após "A Cicatriz É a Flor"; até 25/6. Quanto: o espectador decide quanto pagar pelo ingresso.


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