São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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Crítica/teatro

Cacá Rosset constrange o nome do grupo Ornitorrinco

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Lenise Pinheiro - 31.mai.2006/Folha Imagem
Atores em cena da peça "O Marido Vai à Caça!", em cartaz no Tuca: muito luxo e pretensão para uma leitura rasa até o pueril


O Teatro do Ornitorrinco foi um grande grupo. Levou o princípio de interatividade do Teatro Oficina até uma anárquica gincana -quem participou da corrida da Mãe Ubu, cena de "Ubu", de 1985, em que o público era convidado a subir ao palco e beijar Rosi Campos, não esquece. Aprendeu com o Grand Magic Circus, de Jerôme Savary, a juntar circo e Molière, em uma revitalização popular dos clássicos, e por décadas se destacou em festivais internacionais graças a atores criadores como Luiz Galizia, Maria Alice Vergueiro, Eduardo Silva, Chiquinho Brandão, José Rubens Chachá, Christiane Tricerri, Ary França e Cacá Rosset. Com o tempo, no entanto, esse "ego coletivo" foi se concentrando em Rosset. As peças se apoiavam, com objetivos comerciais, no repertório de piadas e efeitos cada vez mais desgastado, e o público cativo migrou para quem honrava melhor o espírito anarquista das origens, como os Parlapatões. Em 2002, o grupo terminou para Cacá Rosset "ler Walt Whitman, jogar pingue-pongue e beber uísque". Na prática, virou uma personalidade de televisão sem muita graça ou prestígio. A esperada volta do Ornitorrinco, com um vaudeville de Feydeau, decepciona e constrange o nome do grupo. Nada de errado com Feydeau, que está na origem tanto de Groucho Marx quanto de Marcos Caruso; nada de errado em fazer uma comédia comercial quando se tem recursos para isso. O problema é que há muito luxo e pretensão para uma leitura rasa até o pueril. Para usar uma metáfora futebolística -universo ao qual o diretor hoje está mais associado-, é como se Rosset fosse um treinador que não ensaiasse jogadas, mas comemorações de gol. Uma bela luz, um belo cenário e uma trilha esperta estão a serviço de efeitos visuais instantâneos, cacos que vêm prontos na estréia e uma corrida aos roubos de cena (ganha por Octávio Mendes, o que não é mérito), que tentam fazer acreditar que o Ornitorrinco está de volta em forma do pior humor de TV. Não está. "O Marido Vai à Caça!" cumpre com eficácia o papel de caça-níquel, encontrável em qualquer shopping. Seria suficiente, se não fosse vendido como o que não é mais. Rosset não deveria usar o nome de um grupo que não era só dele. É facilmente previsível que a montagem será sucesso de público, e Rosset rirá da crítica a caminho do banco, segundo o velho e infalível clichê. Mas por que parar por quatro anos se é para retomar o fundo do poço? Tomara tenha aperfeiçoado seu pingue-pongue.

O MARIDO VAI À CAÇA!  
Quando:
sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h
Onde: Tuca Espaço Cênico (r. Monte Alegre, 1.024, Perdizes, tel. 3670-8455)
Quanto: R$ 30 (sex. e dom.) e R$ 40 (sáb.)


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