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Crítica/"Sex and the City - O Filme"
Embora com falhas no roteiro, filme vale como um reencontro
Fiel a efeitos do tempo, filme é prejudicado por excesso de clichês "mulherzinha"
Divulgação
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Carrie (Sarah Jessica), de Vivianne Westwood, antes do casório
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Quando surgiu na TV,
em 1998, a série "Sex
and the City" coroava
um esforço de mutação pilotado pela HBO desde o início daquela década e que consistia em
romper com pudores na linguagem e com os limites, sobretudo os de teor sexual, na temática. O sucesso, como se sabe, foi
estrondoso.
Para além da novidade comportamental, a receptividade a
Carrie e companhia encontrava-se na expressão de vivências
comuns que não se reduzia exclusivamente à de mulheres
trintonas em Nova York. Pessoas de ambos os sexos, habitantes de qualquer cidade vagamente metropolitana, confirmaram com "Sex and the City"
que suas angústias sexuais e
afetivas eram, digamos, universais. O que acontece, porém,
quando o seriado acaba e quatro anos depois retorna como
"Sex and the City - O Filme"?
Os fãs incondicionais não se
sentirão frustrados. É para eles,
certamente, que os produtores
distribuíram com exagero as
cenas de encontros do quarteto, sempre seguidas de uma insuportável gritaria, e a profusão
de referências a grifes, que
transforma a primeira hora do
longa num interminável comercial da Daslu. Contudo, o
acúmulo dos clichês da figura
da "mulherzinha" afasta o filme
da forma agradável como a série inoculava seu público com
uma irresistível ideologia pós-feminista.
E o que sobra em "Sex and
the City - O Filme" da inteligência da série, sua abordagem
digamos, antropológica da vida
afetiva, seu modo de captar
com cinismo o consumismo como fórmula única da felicidade? Pouco ou nada.
Ao reencontrar suas personagens, agora na casa dos 40
anos, o filme permanece fiel
aos efeitos do tempo (como toda boa série, aliás), mas tem de
se equilibrar entre efeitos realistas (a maternidade de Miranda e de Charlotte, a rotina do
sexo depois do casamento) e a
necessidade de ser "divertido".
Sem muita habilidade, o diretor e roteirista Michael Patrick
King, veterano produtor-executivo da série e estreante no
cinema, nada mais faz que alinhavar situações, com quebras
de ritmo que revelam como o
longa se ressente da falta de um
roteiro com estrutura de filme.
Por exemplo, toda vez que a
trama se aproxima de pontos
de crise e ameaça aprofundar a
abordagem dramática o filme
recebe um daqueles golpes de
vento feitos para levantar vestidos. Tal solução recorrente
acaba reafirmando que ninguém aprende com a dor, ou seja, qualquer dificuldade existencial se apaga quando se
compra uma bolsa Louis Vuitton ou um sapato Manolo.
Outro problema é a duração
do longa: 148 minutos equivalem a quase cinco episódios do
seriado. E a experiência no cinema difere de assistir a um pedaço de temporada num fim de
semana. Em vez do prazer de
ver sucessivamente, "Sex and
the City - O Filme" dá a sensação de um episódio meia-boca
com uma barriga enorme no
meio.
E por que, mesmo com tantos defeitos, eu ainda acho o filme bom? Porque ele funciona
como aqueles reencontros com
velhos amigos. Você os abraça,
ri, fica nostálgico e pode sentir
que não está sozinho no mundo. Se é que isso ajuda.
SEX AND THE CITY - O FILME
Produção: EUA, 2008
Direção: Michael Patrick King
Com: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Cynthia Nixon e Kristin Davis
Onde: estréia hoje no Anália Franco,
Pátio Higienópolis, Bristol, Kinoplex
Itaim e circuito; classificação: 16 anos
Avaliação: bom
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