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Outra opinião
Menos Sarah Jessica e mais Dorothy Parker
CECILIA GIANNETTI
COLUNISTA DA FOLHA
"Sex and the City - O
Filme" não traz nada
palpitante ou muito
diferente do que já foi visto em
episódios de meia hora; exceto
que o longa é mais arrastado
que a versão televisiva.
Parece um episódio extra-longo, um sonho fashion com
roteiro mais desnutrido que a
protagonista, cuja última refeição de verdade deve ter ocorrido por volta de 1975.
Começa com uma recapitulação pouco sutil, encadeando
cenas do seriado com Carrie e
cia. "coladas" em páginas dos livros escritos por ela. E segue
mantendo a mesma estrutura
da TV, com as vidas das quatro
costuradas por comentários
trocadilhescos da protagonista
("Assim que Samantha conheceu Dante, ela desceu ao inferno" etc.)
Para quem deseja só ver moda, está de bom tamanho: a originalidade do filme fica por
conta do figurino; lá pela segunda metade da fita surge a
NY Fashion Week; e o tamanho
do closet que Mr. Big manda
construir para as tralhas da
mulher é mais importante até
que uma aliança de diamantes.
Fãs também não irão se importar muito com o plot diluído, pois irão ao cinema reencontrar velhas amigas; uma delas, inclusive, com idade para
ser avó, mentalidade de adolescente e corpo de mulher de 30
que já fez dinheiro suficiente
para ao menos tentar recuperar
a silhueta que ostentava aos 19.
(Um parêntese para quem insiste em analisar o comportamento de mulheres usando
"Sex and the City" como guia:
este filme não é um retrato fidedigno do que se passa no universo feminino.)
Os 4 anos longe das câmeras
foram cruéis com as personagens, que envelheceram mal;
no longa, parecem tão vivas
quanto displays de papelão em
uma locadora. Por outro lado,
esteticamente, estão em boa
forma: continua surpreendendo a conservação de Kim Cattrall aos 51, única coisa realmente notável... Se for efeito
especial, merece prêmio.
Defensores da série costumam afirmar que o maior objetivo do quarteto que não trota
com sapatos de menos de US$
300 não é prender um homem
nos laços do matrimônio. Porém, aqui, o casamento de Carrie surge como o Santo Graal da
trama, embora a festa não suscite emoção -exceto para platéias que ainda conseguem rir
em cenas como a do motorista
indiano (paquistanês, árabe,
turco... varia de filme pra filme)
que balança a cabeça enquanto
ouve uma conversa entre amigas desiludidas em seu táxi.
O casório, aliás, é oportunidade para que outro péssimo
trocadilho seja disparado por
uma delas, que assim se refere a
Big: "A man who finally got
Carried away". Um homem que
finalmente foi "Carriegado".
Com essa turma, relacionamentos não vão por água abaixo: lava-se o desgosto bebendo
vodca como se fosse água.
"Os homens maus te f..., os
homens bons te f..., e o resto
não sabe f...", concluem a certa
altura. A quem busca um bom
retrato da guerra dos sexos, fica
a recomendação: menos Sarah
Jessica e mais Dorothy Parker.
Avaliação: ruim
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