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CRÍTICA TEATRO
Carências de texto levam à peça previsível
Traduzida por Paulo Autran, "A Grande Volta" se perde em indecisão entre relações familiares e passado na guerra
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O fracasso como tema e como forma. Essa é uma leitura
possível de "A Grande Volta", peça escrita pelo belga
Serge Kribus encenada por
Marco Ricca.
Ao confrontar um pai e um
filho, ambos cientes de terem
desperdiçado suas vidas e
comprometido sua relação, o
drama revela impotência em
tornar interessantes os seres
humanos que apresenta.
Kribus poderia objetar que
a banalidade que cerca os
diálogos e a trama é estratégica, servindo como anteparo para alcançar uma densidade emocional mais profunda e, quem sabe, capturar
o vazio moral de nossa era.
A indicar essas intenções
alguma menção às peças de
Tchecov. A negá-las, o fato
de os personagens permanecerem superficiais em enredo
que busca alimentar a empatia do público por eles.
O protagonista é Boris
Spielman, cujo nome aparece no título do original em
francês, estreado no ano
2000 em Paris.
É ele, um ator menor que já
se via aposentado, quem retornará aos palcos em grande
estilo. Vai encarnar o cobiçado papel de Lear, o rei criado
por Shakespeare que sofre de
demência senil.
Em contraponto, o filho visitado, que vive a crise de
uma separação conjugal e do
desemprego e assiste, melancólico, à decadência do pai a
projetar sua própria derrota.
FOCO NOS DIÁLOGOS
A encenação de Marco Ricca teve o mérito de economizar nos adereços e focar toda
a atenção nos diálogos. E a
cenografia de André Cortez
colaborou nesse sentido,
criando um espaço cênico
que separa os ambientes internos e externos com um mínimo de recursos e muita engenhosidade.
Tudo isso é pouco para suplantar uma carência que parece ser da própria dramaturgia, insinuando muitas possibilidades e não levando a
cabo nenhuma delas.
A refletir essa dificuldade
do drama em se impor, seja
como narrativa, seja como
psicologia, o trabalho dos
atores não consegue transcender o caricatural.
A ligeireza dos traços ressalta principalmente na interpretação de Fúlvio Stefanini. Ator tarimbado na comédia, ele não alcança nem a
gravidade nem a loucura que
o personagem do velho ator
sugere.
Rodrigo Lombardi, com
menos experiência de palco,
ao menos se desincumbe
com naturalidade verossímil
no papel do filho.
No conjunto, porém, o que
parece colaborar decisivamente para que a encenação
se desenvolva previsível e
sem grandes consequências
é mesmo o texto.
As credenciais de ter sido
premiado na Europa e traduzido pelo saudoso Paulo Autran (1922-2007), talvez para
ele próprio encenar, não o livram de suas limitações.
O autor se perde, indeciso
entre ir fundo nas relações
entre pai e filho ou explorar
melodramaticamente, com
vagas alusões ao passado do
protagonista na guerra, a sua
condição de judeus.
Se a peça discute como
duas vidas podem falhar, o
espetáculo se deixa contaminar pela temática e, morno,
fracassa artisticamente.
A GRANDE VOLTA
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às
21h, e dom., às 19h; até 15/8
ONDE teatro da Faap (r. Alagoas,
903, tel. 3662-7233)
QUANTO R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular
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