São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2001

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"RÉQUIEM PARA UM SONHO"

Filme funciona mais como uma farsa

Longa é o segundo do americano Darren Aronofsky ("Pi") e mostra universo dos viciados

RUY GARDNIER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há uma nova geração de cineastas americanos que vem mostrando interesse no lado obscuro do sonho americano, na vida dos "losers", dos esquecidos pelo sistema. Já houve "Magnólia" (P.T. Anderson), "Felicidade" e "Histórias Proibidas" (Todd Solondz) e até o oscarizado "Beleza Americana", de Sam Mendes.
Com "Réquiem para um Sonho", Darren Aronofsky larga o caminho mais experimental de seu longa de estréia, "Pi" (ainda inédito no Brasil), para abraçar o tema preferido dos novos diretores americanos: um relato de ascensão e queda de diversos personagens que cometem excessos e são punidos. Em "Réquiem", o que une a vida dos quatro protagonistas é o vício.
Harry e Marion formam um lindo casal. Quando eles começam a traficar heroína, junto com o ambicioso amigo Tyrone, acabam tornando-se dependentes da droga, e Harry precisará recorrer a todos os protocolos possíveis para conseguir dinheiro.
"Réquiem para um Sonho" é muito bem interpretado, dirigido com inteligência e perspicácia, mas não consegue ser aquilo que se pretende: um réquiem. Pois, ao contrário do tom solene e respeitoso de um lamento fúnebre, o que vemos é um desfile de moralismo antidrogas, em que o virtuosismo do diretor parece zombar do triste destino de seus personagens. O filme de Aronofsky está mais para uma farsa.
Um excelente exemplo disso são os pequenos clipes inseridos no filme nos quais vemos, em câmera acelerada, as fases do ritual de preparação para o consumo da droga. À medida que os personagens mergulham em seus vícios, os clipes vão ficando mais velozes, criando uma sensação de apreensão, mas não conseguindo penetrar na dor dos viciados.
Entre a eficácia de Aronofsky e os dramas das pessoas que vemos na tela, há uma barreira indestrutível. O autor não se contamina pela falência dos sonhos de seus personagens e, assim, acaba arruinando o projeto do filme.


Ruy Gardnier é jornalista e editor da revista eletrônica "Contracampo"

Réquiem para um Sonho
Requiem for a Dream
 
Direção: Darren Aronofsky
Produção: EUA, 2000
Com: Marcia Gay Hardem, Ellen Burstyn
Onde: em cartaz nos cines no Belas
Artes, Cinearte e Unibanco Arteplex



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