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CINEMA/CRÍTICA
"Jogos Mortais" usa lógica de "reality show" para criar o terror; sucesso do longa já garantiu continuação
Totalitarismo da imagem percorre thriller
THIAGO STIVALETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O "Big Brother" está mesmo por toda parte. Depois
do sucesso da fórmula na televisão, o cinema adotou o totalitarismo da imagem como elemento central de diversos gêneros, do
drama ("O Show de Truman",
1998) à comédia ("Entrando numa Fria", 2000) e ao terror ("Halloween: Ressurreição", 2002, em
que o imortal Mike Myers ataca os
integrantes de um "reality
show").
As câmeras ocultas que tudo sabem e tudo vêem também são
fundamentais na estratégia do
psicopata deste "Jogos Mortais",
de James Wan.
As duas vítimas principais, que
durante todo o filme ficam acorrentadas em um banheiro infecto,
devem seguir as pistas deixadas
por ele para ter alguma chance de
salvação.
A consciência do olhar escondido, que acompanha cada um de
seus movimentos, é fator essencial na elaboração do medo dos
personagens.
Anunciado como o melhor filme de "serial killer" desde "Seven" (1995), "Jogos Mortais" tenta
mesmo mimetizar a fotografia do
thriller de David Fincher, privilegiando os ambientes escuros e sujos, com uma luz que só permite
ver o essencial.
A premissa tem lá suas qualidades: enquanto um único espaço
concentra a tensão do filme (o tal
banheiro onde estão um jovem e
um médico acorrentados, tendo
entre eles um cadáver desconhecido), o psicopata continua a agir
no mundo externo, e um detetive
(Danny Glover, o único nome conhecido do elenco) corre em seu
encalço.
E a trama, cheia de reviravoltas,
mantém o espectador atento até o
final -poucos espectadores hão
de adivinhar o desfecho.
Mas esse mesmo roteiro que
privilegia as viradas súbitas acaba
passando por cima dos personagens, que não têm muita consistência e estão lá apenas como peças de um jogo de xadrez habilmente conduzido.
O próprio detetive passa de homem racional no início a louco
obcecado por seu alvo sem transição justificada. Por fim, os atores
também não ajudam muito, com
interpretações esquemáticas e
sem energia.
No final das contas, "Jogos Mortais" (que no original se chama
"Saw", serrote em inglês) é mais
um exemplo de suspense com
produção independente que, à
força de contar com uma boa
idéia, torna-se bem lucrativo.
Custou US$ 1,5 milhão -cerca
de R$ 3,9 milhões- para ser produzido (mais US$ 15 milhões de
divulgação -cerca de R$ 39 milhões) e, aproveitando o Halloween norte-americano, na estréia
em outubro, rendeu US$ 55 milhões -cerca de R$ 143 milhões.
A seqüência, claro, já foi anunciada ainda para este ano.
O diretor estreante, o australiano James Wan, tem mesmo futuro como roteirista. Mas ainda precisa aprender a não diluir suas
histórias tão bem inventadas em
imagens cheias de maneirismos,
que trabalham apenas em cima
dos códigos óbvios que estamos
acostumados a ver em qualquer
filme do gênero.
Jogos Mortais
Saw
Direção: James Wan
Produção: EUA, 2004
Com: Leigh Whannell, Cary Elwes e
Danny Glover
Quando: em cartaz nos cines Eldorado,
Marabá, Shopping D, Metrô Santa Cruz 9
e circuito
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