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Companhia destaca humor trágico em Kafka
DA REPORTAGEM LOCAL
Um teatro imagético, ancorado na "rítmica corporal" e na
música, mas que não escorraça
a palavra e conversa sem sobressaltos com Franz Kafka,
García Lorca e Oswald de Andrade. É o que o Grupo Oficcina
Multimédia irradia de Belo Horizonte há 30 anos, como se verá no retorno a São Paulo, agora
com sua penúltima peça, "A
Acusação" (2005).
A releitura cênica do romance "O Processo", de Kafka
(1883-1924), ganha curta temporada paulistana. São duas semanas no Tusp, a partir de hoje, dentro do projeto Cena Contemporânea de Minas, que traz
na seqüência a Odeon Companhia Teatral com "A Servidão"
(22/2 a 9/3).
"K" (1984), a segunda montagem da Multimédia, costurava
citações a contos e romances
do escritor tcheco, em roteiro
que inclinava à atmosfera sufocante de suas histórias. Agora,
diz a diretora e adaptadora Ione Medeiros, essa convenção
"kafkiana" é subvertida.
Em "A Acusação", interessa
mais a carga de humor trágico e
menos o espectro sombrio do
Judiciário que oprime Josef K.,
o sujeito em busca de saídas.
Medeiros fala de um riso que
brota do subtexto das situações
abstratas. "O espetáculo chama
a atenção para esse lado absurdo. É como um tombo, trágico,
mas do qual a gente também
acaba rindo", afirma.
A inversão de expectativas
também desponta no espaço
cênico. Em determinada passagem, sugere-se o escorregador
de um playground, como a traduzir o espírito lúdico que se
pretende alcançar em jogo. O
desenho de luz é reforçado por
tubos de néon, que remetem a
uma metrópole moderna.
O sexteto de atores contracena com vários objetos, signo recorrente. No tablado, um emaranhado de linhas horizontais ou verticais aparenta desdobramento em série, feito células que se multiplicam. Não por
acaso, um boneco surge como
dublê de Josef K., oscilação do
que é real ou virtual.
"A gente não dialoga com o
boneco, mas sim com a máquina da modernidade, uma autoridade poderosa que pode ser
exercida à distância, de qualquer lugar", diz Medeiros.
(VS)
A ACUSAÇÃO
Quando: de qui. a sáb., às 21h; dom.,
às 20h; até 17/2
Onde: Tusp (r. Maria Antonia, 294,
tel. 3255-7182)
Quanto: R$ 20
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